"Este texto eu escrevi à mão em meu caderno de pensamentos. Particularmente eu não gostei tanto quando o reli agora, a história na mente era muito melhor e fantástica para mim do que eu consegui transcrever. Mesmo assim vou postar aqui o texto original da íntegra.
A inspiração veio de uma música de 1965 do Roberto Carlos, chamada O Velho Homem do Mar, que meu pai cantava pra eu dormir quando eu era pequeno. Mas a verdade é que esta música verdadeiramente me assustava e me fazia imaginar histórias." Daniel Vitório.
O pequeno homem navegava no mar havia tanto tempo que ele nem se lembrava mais quando zarpou.
Estava sóbrio, plenamente consciente de que encontraria um pedaço de terra para ancorar seu pequeno barco e encontrar um pedaço de mundo que pudesse chamar de seu.
Partiu de seu continente sem destino, um louco aventureiro com experiência de pescador simples e que já nem mais fazia ideia de que dia era. Há quanto tempo estava no mar? Não sabia, perdeu a noção dos dias e logo após perdeu a direção de sua direção.
Ele mudou de nome: Agora chamava-se O Marinheiro, nada de espetacular. Levou consigo duas garrafas de vinho, ambas foram consumidas dilaceralmente em dois dias. Também levou pães que também se esgotaram em três ou quatro dias.
Mas ainda assim, o pequeno homem era um pescador, um legítimo pescador. E então passou a comer peixe e somente peixe durante muitas luas. Sua pesca era farta e sua fome era praticamente inexistente. Seu verdadeiro problema era a água. Não chovia já fazia tempo e o estoque que trouxe de água estava praticamente no fim. E o mais interessante de tudo é que não sentia-se arrependido, não havia a menor fração de desistência em qualquer materialização vaga em sua mente. Sentia-se feliz, mesmo que morresse no mar. Não enfrentou uma tempestade sequer.
O sol escaldante e o ar salgado eram seus companheiros. E durante muitos dias foi assim... Não sabia por quantos dias, mesmo porque passava dormindo praticamente o tempo todo. Uma rede de fios artesanais era o que tinha para se proteger. Estava agora fraco, não haviam muitas forças para continuar pescando. Faltava água, estava morto de sede e de fome e tudo o que podia fazer era dormir e, de uma forma incrível, sorrir!
Certo dia, quando já não sabia há quanto tempo dormira, esticou seu pescoço para fora do barco e testemunhou o que havia a seu redor. Um pequeno pedaço de terra despontando no horizonte, algo pequeno, provavelmente uma ilhota, um gomo de terra fora d´água, o término de sua viagem, o fim da linha, seu objetivo.
O mar ajudou a empurrar o barco para a terra, até que o pequeno barco atracou na areia, águas rasas, travando o barco de forma a convidar o viajante à descer e desfrutar de sua terra mágica. O pequeno homem então reuniu todas as suas forças, seus suspiros finais de vida para descer do barco e pisar em terra firme. Os dedos de seus pés sentiram a textura grossa da areia, misturada com a água quente e rasa que banhava a superfície de sua descoberta.
Mas já haviam descoberto seu paraíso antes. Olhou para o horizonte e viu pessoas correndo em sua direção. Eram pelo menos dez, não tinha certeza.
O pequeno homem chorou.
E o mar parece que se empatizou de seu pranto pois tornou a carregar seu pequeno barco, desta vez em sentido contrário, de volta ao mar. E o Velho Homem do Mar teve forças para entrar novamente no barco e se deixar levar pela maré.
E assim ele foi, feliz e certo de que finalmente encontrou seu verdadeiro lar.
Roberto Carlos - O Velho Homem do Mar - Youtube
Preste muita atenção para a história que agora eu vou contar
Ouçam bem esta canção
A canção do homem que viveu no mar, no mar
De manhã já bem cedinho
Ia com seu barco para o alto mar
Com a noite ele chegava sem ninguém sequer saber por onde andou, no mar
Não falava com ninguém
Quieto ele estava sempre a pensar
Todos dizem que talvez procurasse alguém
Que ele perdeu no mar, no mar
Mas um dia de manhã
O velho todos viram no seu barco entrar
Mas seu barco não voltou
Todos se juntaram para olhar o mar, o mar
Desse dia em diante
Em lugar algum ele apareceu
Procuraram sem cessar
Mas o velho todos acham que morreu no mar
Há quem diga ainda mais
que por muitos anos muita gente viu
Certo barco a vagar
Na escuridão do solitário mar.
No mar, no mar, no mar...
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