terça-feira, 23 de abril de 2013

Contos - Nostalgia II



Entrei naquele bar exatamente às 02:00 da matina, sem muito dinheiro no bolso mas com uma incrível e insana necessidade de uma dose de Jack Daniels ou qualquer outro uísque barato, não importava! Buscava apenas o efeito abrasador do álcool queimando minha garganta e me concedendo a deliciosa e macia sensação de entorpecência lentamente subindo ao meu cérebro.

Tudo foi absolutamente mais perfeito do que eu esperava, deveras, no momento em que eu entrei no escuro e abafado ambiente, me sentei no balcão e uma banda começou a tocar os primeiros acordes de uma nova canção. Ahhh, Rhythm and Blues, esse tipo de som ainda está vivo nestes pequenos bueiros e submundos boêmios das grandes metrópolis.


Tirei minha jaqueta, colocando-a sobre o balcão e pedi minha dose de Jack sem saber quanto custava. Puro, estilo Cowboy, foda-se com qualquer "gelinho" que possa estragar o meu barato. Olhei em volta, poucas mesas com pessoas embora o local não estavesse de todo vazio. No balcão só eu e mais um casal afastado conversando de um jeito que era impossível não imaginar que logo sairiam dali para terminarem a conversa de um modo mais reservado.


Lembrei-me dela, Gabrielle... qualquer visão de casais e momentos felizes ou de sentimentos sexualmente palpáveis e perceptíveis no ar me fazia lembrar dela. Seu sorriso era enigmático e complexo, seu olhar direto era deliciosamente fulminante e eu me perdia nas curvas de seu corpo como alguém que se perde em uma estrada sem sinalização.


Gabrielle seria apenas uma aventura, se não fosse o seu jeito de me prender apenas sendo ela mesma, jeitos, conversas e olhares impossíveis de se esquecer. E eu a perdi tão rapidamente como a ganhei, mas de uma forma muito mais estúpida. Minhas loucuras insanas de possessão de sentimentos, de ciúme desgovernado, de querer ser o centro do universo de minha amada... a paixão quando é muito forte torna-se perigosa, o duro foi aprender isso depois da consumação de meus erros...


Gabrielle não gostava de bares mas era uma amante de bons restaurantes, de simples programas de casal como ver o por do sol de cima de uma colina ou dar um belo banho de mangueira no cachorrro. Uma simplicidade complexa de entender, justamente porque era simples demais.


Ela me falava sobre as preocupações da vida como sendo apenas bolhas de realidade, que damos importância a muitas coisas sem importância e que deveríamos ser nós mesmos a todo momento. Além disso era muito, muito segura com todos os tipos de assuntos e situações. E minha insegurança era imediatamente proporcional a segurança de Gabrielle. Ela iria me deixar de qualquer jeito e eu jamais teria condições de continuar um relacionamento com ela porque Gabrielle era muito melhor do que eu, muito mais à frente ideologicamente, moralmente e sentimentalmente.


A banda fez uma pausa, palmas e assobios de aprovação. A atmosfera era densa e relaxante. O som da banda foi substituído por uma música ambiente gravada. Novamente Blues, Willie Dixon. Sim, reconheço sua voz e em minha memória vibram-se os sentimentos nostálgicos.

E aqui estou eu, copo vazio, ritmo lento de uma música tão espetacular que quase esbocei um sorriso. Afinal, dos sentimentos tristes saem as melhores composições, os sucessos imortais, as melhores partes da criação de um artista!

Outros Capítulos:
Nostalgia 
Nostalgia III - Fim...

2 comentários:

  1. Deu vontade de conhecer a Grabrielle, ela deve ser bem legal...mas não tanto quanto a vontade de ir nesse bar, e tomar o jack sem gelo....

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    Respostas
    1. Grande Klebinho!
      Pois é rapaz, ainda mais depois de uma semana cansativa, precisamos mesmo de algo assim pra relaxar...
      Obrigado por comentar!

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