terça-feira, 30 de outubro de 2012

Contos - Lizzi - O Lagarto

"Faz algum tempo que convivo com esta história em minha mente e finalmente pude materializá-la através das palavras a seguir. A inspiração de Lizzi - O Lagarto veio à partir de um chaveiro de lagarto que eu consegui em uma daquelas máquinas que soltam chaveiros em cápsulas quando inserimos moedas de um real. Pensei "E se esse lagarto tivesse vida? Que tipo de liberdade ele desejaria?" Escrevi este conto no começo deste ano de 2012." Daniel Vitório.


Lizzi - O Lagarto

Lizzi andava pela floresta sentindo o cheiro da grama baixa misturada com as folhas de outono, algumas tão antigas quanto suas patas desproporcionalmente grandes comparadas com seu corpo alongado de calango.
   Não que ele tivesse idade avançada, mas era um ser vivo de uma tradicional e clássica meia idade.
   Lizzi - o Lagarto, era popularmente conhecido em seu grupo composto por lagartixas e outros calangos menores.
   - Como vim parar aqui? - Sempre se perguntava.

Mas a resposta era óbvia e ele a sabia perfeitamente - seu ovo foi depositado no lugar ERRADO. Mamãe lagarto depositou os ovos em uma região dominada pelas lagartixas selvagens. Estas tinham um comportamento indiferente aos lagartos pois não havia uma concorrência por comida - os lagartos geralmente almoçavam insetos quase do tamanho de lagartixas.

E por que não, se unir às lagartixas para um banquete de mini-moscas? Um grande filé para as lagartixas, aperitivos para Lizzi e os demais de sua espécie.
Apenas o ovo de Lizzi sobreviveu após o ataque de guloseima dos guaxinins que passavam pela região. Os guaxinins não buscavam ovos, mas foi um belo café da manhã encontrá-los quase frescos no meio do caminho! Menos o de Lizzi. Lizzi deu sorte. Sorte de lagarto.
Agora ele caminhava, após a despedida não calorosa do grupo de lagartixas e calangos. Ele queria conhecer outros lugares, se aventurar pelo mundo desconhecido, quem sabe conhecer um bicho-lagarto-fêmea que muitos lhe cobravam. Cobravam como uma sociedade motivada pelo que chamavam de “três-em-um” - Nascer, se reproduzir e morrer - três em um único animal!
- Lizzi, você está ficando velho meu irmão. Não vai conseguir cumprir o maior objetivo de sua vida e poder morrer em paz! - dizia o velho Tixão, classificado pelo grupo como o grande sábio.

- Não costumo me cobrar antes de almoçar! - Costumava sempre brincar usando alguma parábola relacionada à comida. Afinal, um de seus maiores hobbies era comer!
- A vida de lagarto é algo que vai além de nossa compreensão e conhecimento - era uma outra frase muito usada por Tixão.
Mas Lizzi não se importava com o que era falado sobre ele ou sobre qualquer filosofia réptil, primitiva ou não. Ele queria a liberdade, queria connhecer outros lugares, saber como era o mundo fora da floresta limitada que ele conhecia. E, claro, se fosse o caso de formar uma família, fixar um buraco em uma árvore como território, por que não o fazer? Mas ali, sinceramente, já não era mais seu lugar.
- Mi casa é su casa bandido! - Larry - o calanguinho matreiro sempre lhe falou muito bem isso! Mas SU não significava ser a SUA casa. Disso ele sabia (e sentia) há muito tempo...
Lizzi passou por uma série de pequenos pedregulhos que mais davam dor de cabeça do que dor nas patas! Logo à frente apontava uma descida íngrime , a qual não lhe dava visão do que existia abaixo dela. Podia ver apenas o céu azul claro à  frente, aliás, muito mais claro do que ele estava acostumado. A floresta onde morou por toda sua vida era densa e cheia de árvores e não refletia muito bem a luz do sol. Esta nova visão era extremamente agradável!
Caminhou mais alguns passos desviando de algumas pedras maiores , escutou o  repetitivo canto dos pardais  nas árvores acima dele e, ao inclinar o pescoço pra frente para visualizar o que havia além da descida íngrime , levou um susto e tanto!
Visualizou alguns prédios baixos e horizontalmente alongados, um grande chão feito de aslfalto e... humanos!
Ele não sabia exatamente o que eram prédios construídos por humanos - velho Tixão comentara certa vez que os humanos construíam tocas enormes e que o número de integrantes da toca poderiam variar e muito. Além disso, os humanos nunca foram muito leais uns com os outros, o que fazia com que o número de integrantes humanos em cada uma das toca se alterasse com frequência.
Sendo a teoria diferente da prática, os humanos eram, de fato, diferentes do que ele imaginava: Maiores, menos velozes e não tão assustadores quanto imaginava!
Lizzi sempre tinha uma carta na manga - ele sabia que muitos dos humanos tinham aversão à lagartos! Ainda mais desses multicoloridos como ele era, podendo quase usar uma camuflagem integrada ao ambiente. Sou um camaleão? Uhu, quase isso!  - Ele pensava e brincava com as fortes cores de seu corpo.
Agora ele estava ali, diante de uma platéia de humanos e blocos e mais blocos de prédios! Daquele ponto os humanos não podiam ver Lizzi. Pelo menos até que ele se aproximasse um pouco mais.
- Quero me aproximar, tentar algum contato com eles, e também saber se há outros de minha espécie por lá! - Pensou. - Preciso ir com calma e … será que eles realmente não falam?
O velho Tixão havia contado uma vez que entre os animais a fala era comum mas os humanos tinham seu próprio linguajar... não existia uma maneira de tentar conversar com eles.
Já havia conversado com muitos outros animais, inclusive alguns mamíferos como macacos e morcegos (quando Lizzi era pequeno havia um cara muito engraçado, um morceguinho-rei que vivia em um minúsculo buraco nos pedregulhos mais altos em que ele INSISTIA em dizer que era uma caverna), entre alguns mais! Só não conseguia falar com insetos - insetos não falam, só zumbem, alguns emitem sons de arrebentar o cérebro mas prosear uma boa prosa... nada!
Certa vez, em uma animada partida de jogo de cartas, que era uma espécie de truco humano jogado com folhas verdes claras,  Martin - O Sapo comentou que conseguiu falar com uma mosca... ou quase isso:
- É senhores, eu ouvi uma mosca e pedi para o maldito inseto falar mais alto porra! Me parece que a mosca falou algo como “vamos nos vingar agum dia!” e sim eu cheguei a escutar essa frase mais de uma vez mas não tive paciência de ouvir se realmente foi a mosca mesmo que falou -  a mosca tagarela acabou virando meu lanche do meio dia!
- Bem, vamos voltar aos humanos - Pensou Lizzi.
Ao mesmo tempo em que os humanos tratavam os animais com respeito e carinho, também poderiam te encher de paulada e te assar na brasa!
- Mas eles devem ter algo que não temos. O conhecimento das coisas e com isso, a liberdade maior! - Pensou Lizzi.
Exatamente no instante em que lembrou disso ele escutou um estalo vindo de uma das moitas atrás dele, algo como um galho seco se partindo. Olhou para trás e nada se movia. Ele adotou uma tática de defesa (a única que conhecia) de ficar absolutamente imóvel.
Uma de suas patas dianteiras estava ligeiramente fora do solo, os olhos esbugalhados, língua atenta e corpo absolutamente parado!
Quando viu O QUE saiu de trás da moita relaxou e deixou seu corpo descontraído. Era Lairson - O Tatu, o melhor amigo de Lizzi poderíamos dizer, mesmo Lizzi não sendo tão boa companhia e não tendo grandes amigos.
- Liz, onde está indo meu camarada? Afastou-se e muito da floresta... Eu sabia que esse dia iria chegar! Você bem que falou que um dia sairia desta maldita floresta!
- Bem, estou me afastando realmente mas, Lairson, não me leve à mal... estava mesmo afim de ir sozinho se não se importa - Lizzi falou sem olhar para o Tatu.
- Caaaara, como eu poderia adivinhar? Bom, eu também tenho essa vontade louca de conhecer outros lugares sabe? Meu, tu sabe, minha Tatu me deixou, meu sentimento é de procurar coisas novas! Posso ir contigo SE-NÃO-SE-IMPORTA?
Lairson era um Tatu cujo estado civil se comparado à regra dos humanos, o mais próximo seria DESQUITADO. Sua companheira o trocou por um Tatu de outro vilarejo... maior e muito mais gordo, e pelo menos bem menos falante e igualmente menos “pegajosamente” participativo em tudo.
- Bom, eu prefiro ir somente eu sabe? Talvez seja arriscado você ir junto - retrucou Lizzi. Queria o amigo longe de suas idéias malucas -  Acima de tudo, queria ficar sozinho.
- Arriscado é comigo mesmo! Eu não tenho coragem se for sozinho mas Liz, Liz, Liz!!! Por favor cara, me dê apenas um pouco de emoção.. de um momento com meu único e melhor amigo! Depois de me divertir um pouco prometo que te deixo partir... se ainda quiser.  - A cara com que Lairson disse isso fez lembrar dos garotinhos lagartixas encenando uma peça de teatro “Meu Calango Favorito”.
- Ok, vamos descer esta ladeira e ver o que há mas não estranhe se quando você estiver dormindo não me encontrar mais! - Disse Lizzi.
- Eu vou fazer você mudar de idéia! - Retrucou Lairson.
Lizzi se esqueceu parcialmente de toda a ladainha de seu amigo e já se utilizou dele para tentar tirar algo proveitoso que fosse de seu interesse:
- Você por um acaso sabe o que tem ali embaixo? Ou já teve algum tipo de experiência com algum humano? - Perguntou Lizzi.
- Ah sim! Na verdade eu tive um pequeno contato. Meio dolorido na verdade, porque eles devem ter me confundido com um Tatu-Bola ou algo do tipo pois levei um baita chute cara! - Mas não achei de todo ruim, até PARECEU que foi sem querer, olhando esta história por outro ponto de vista e...
- Você levou um chute de um humano? - Lizzi perguntou com olhos arregalados. Ele achava incrível que um amigo próximo como Lairson já havia tido contato com humanos e nunca havia comentado com ele! Ou Lairson estava mentindo (uma mentira muito deslavada e muito conveniente neste momento, igualando a ousadia da exibição do lagarto aventureiro) ou ele poderia já começar a se sentir desprezado simplesmente pelo fato do Tatu-amigo ter se esquecido de contar uma história tão diferente e extraordinária! E para o melhor amigo!
- Bom, na verdade eu nunca contei porque achei que iriam me criticar porque não fui um Tatu cuidadoso...sabe como é, ne época estava casado e tinha os guris e...
- Tá bom, ok, TRANQUILO! - Lizzi acelerou o rumo da conversa. E como são os humanos? Podemos nos aproximar? Podemos nos infiltrar em seu território?
- Bem, na verdade cara eu não sei! - respondeu Lairson.
- Como não sabe? Você levou um CHUTE de um humano!
- Sim sim mas eu acho que eles estavam em nosso território, algo que os humanos fazem mesmo quando querem ser como você, quando querem conhecer novos territórios! - soltou uma gargalhada abafada, algo que lembrou a Lizzi o gralhar de uma ave bem velha.
- Bom, acha que seremos agredidos se um humano nos vir? - perguntou Lizzi.
- Siiim, isso sem dúvida! Mas me diga, o que quer com os humanos?
- Na verdade não quero nada, apenas... bem, apenas curiosidade... conhecer o mundo deles, acho.
Lizzi percebeu no momento desta pergunta que na realidade não queria nada com os humanos. Absolutamente nada! Conhecê-los melhor apenas por histórias seria o suficiente. Ou saber como seria a liberdade e o poder deles, como ele imaginava. O que Lizzi queria era viver esta liberdade, o que Lizzi queria era o sossego de poder ir e vir a hora que quisesse. E sabia que para isso não poderia ficar carregando seu amigo Tatu como mochileiro! Não, isso não! Se fosse pra ser assim jamais teria saído de seu mundinho verde!
- Olha Liz, você deve estar pensando em ir lá para baixo, olhar para o território dos humanos e tal mas talvez isso seja uma idéia suicida sabe? Humanos não gostam de animais e isso não é boato ou ensinamentos questionáveis como os do velho Tixão... é uma verdade que se espalha por todo o reino animal como bem sabe.
- Sim eu sei! -  E de fato Lizzi sabia, sair para a liberdade e viver na verdade a morte... não, literalmente não estava em seus planos.
- Então cara! Vamos mudar o rumo, vamos seguir o curso do rio, sem nos meter com os humanos! - Sugeriu o amigo Tatu.
-Olha Lairson, não é por mal, mas eu não esperava sair da floresta e ter que ficar ouvindo sugestões de lugares onde eu devo ou não devo ir. Se quiser voltar sinta-se à vontade ok?
- Eita Liz! Não fale assim. Ok, vou contigo mas se eu ver que está ruim a situação vou acabar sendo obrigado a dar minhas opiniões!
- Olha Lairson, você é meu amigo e eu não quero te ofender mas acho melhor MESMO você ficar aí onde está e me deixar seguir o meu caminho!
Lizzi estava perdendo a paciência! Tudo o que queria era fica sozinho! Tudo o que queria era viver o que precisava ser vivido! Ele conhecia tão pouco sobre a vida, achava que tinha vivido tão miseravelmente pouco que até aquela conversa idiota com seu amigo mais idiota ainda trazia-lhe a sensação de perda de tempo. Uma maldita droga de sensação de perda de tempo!
-  Liz, você havia concordado de eu ir contigo! - questionou Lairson espantando, os olhos beirando as lágrimas.
- Tudo bem, certo, sem mais conversas vamos descer! - Lizzi encerrou o assunto, sem dar outras oportunidades de conversar.
Cuidadosamente o lagarto e o tatu desciam a ladeira íngreme e pedregosa. Aos poucos a ladeira tornava-se mais firme, as pedras iam desaparecendo, dando lugar à uma grama rala e compacta. Qualquer humano que olhasse lá de baixo para onde eles estavam iria perceber a movimentação deles, no entanto não havia qualquer humano presente no momento.
O coração de Lizzi batia mais rápido. Lairson tinha vontade de voltar mas, por mais que tentasse, não conseguiria mais fazer Lizzi parar de rastejar, o ritmo era forte e quase louco. Em menos de 2 minutos chegaram ao asfalto.
Lizzi e Lairson não conheciam a textura do asfalto, estavam sentindo algo novo, quente e firme. Ficaram por um tempo parados, sem nada falar. estupefatos! Algum tempo depois Lairson quebrou o silêncio:
- Liz, que coisa louca cara! - O Tatu estava sem palavras.
- É...bota louca nisso. - Lizzi não sabia ao certo o que fazer em seguida.
Os dois iniciaram a caminhada beirando a calçada, acompanhando lateralmente os paralelepípedos, com medo de cruzar a rua de asfalto pois o campo ficaria demasiadamente aberto, impossibilitando qualquer mínima manobra de defesa.
Um carro de pequeno porte começou a se aproximar, vindo de frente para eles, ainda longe. Era a primeira vez que ambos estavam vendo um veículo humano. Era impressionante como neste momento figuravam em suas mentes as histórias antigas contadas pelos companheiros. Agora estas histórias pareciam apenas anedotas de um mundo completamente distante. E que em apenas meio período de caminhada eles já estavam tendo a oportunidade de vivenciar estas histórias de forma real, de forma inesperada e aventureira!
Muitas coisas se passavam pela cabeça de Lizzi. Como era possível terem ocultado este mundo dele por tanto tempo? Na verdade era bem provável que os que conviviam com ele também não conhecessem este mundo. Ó, não sacrificaremos aqueles que não são detentores do conhecimento maior! Mas a principal pergunta era: por que ninguém nunca teve a coragem de se aventurar por outras bandas? Nem mesmo Velho Tixão, com tanta experiência de vida tinha este sentimento de inquietação, nem mesmo Lairson, a porra do Tatu marrom pois, se Lizzi não tivesse a brilhante idéia de se aventurar, seu amável companheiro estaria confortavelmente instalado na floresta, mordiscando algum petisco gorduroso e sentado com sua banha em alguma pedra pré-aquecida pelo sol.
Onde está a curiosidade de se CONHECER?
De repente Lairson começou a ter um acesso de pânico ao ver o carro se aproximando:
- Não cara, Liz, vamos VOLTAR, nós vamos MORRER hahahahaha!!! - o riso era desesperador e mais desesperadamente irritante para Liz.
- Fique quieto, vamos tentar passar despercebidos! - Disse Lizzi.
- Como cara, como, como??
- Apenas... apenas fique quieto, sei lá! - Lizzi também estava com medo mas sua curiosidade sobre o mundo, sobre as coisas costumava sobrepor a qualquer outro sentimento. E a tática de defesa novamente o dominava no instinto.
O carro passou por eles lentamente. Ambos arregalaram os olhos, rodas, paralama, pára-choque... e o carro se foi, quase levando junto o coração dos bichos.
-PELAMORDEDEUS cara, o que foi isso? Ele nem quis nos pegar? - indagou Lairson.
- Nem me parecia um animal de fato, isso é algo que por alguma razão se move sozinho. - Lizzi era bem mais sensato.
Não demorou muito para o carro parar. E descer duas pessoas, cada uma por uma porta. E caminharam em direção aos animais.
Os humanos estão vindo! - Lairson apontou e começou a correr. Lizzi não conseguiu dizer mais nada, só pôde igualmente sair em disparada junto com o Tatu.
Lairson era muito lento, Lizzi conseguiu ultrapassá-lo e virava incentivando o amigo a correr mais rápido, olhou para os humanos e eles não pareciam estar correndo de forma predatória atrás deles. Eles não estavam SEQUER caminhando na mesma direção deles. Lizzi sentiu-se mais confortável, virou mais uma vez para ver onde estava Lairson e ele estava deitado no chão, o corpo dele se afastando a cada passada de Lizzi. O lagarto recuou, correu de volta para onde o Tatu se encontrava.
- Lairson, tá tudo bem? O que aconteceu?
O Tatu arfava, respirava com dificuldade, estendido de barriga para cima no chão.
- Fora de forma meu camarada! arf arf... - Lairson estava MESMO fora de forma, se uma corrida de 30 segundos já o deixou deste jeito, o que seria de Lizzi se fosse acompanhado pelo amigo durante mais tempo? Era uma situação que representava problemas e perigos para Lizzi.
No entanto, antes mesmo dos pensamentos de Lizzi serem tomados pelo questionamento acerca do mórbido amigo, o próprio Lairson se adiantou e se colocou de fora da jogada:
- Liz, eu vou voltar meu chapa! Amigos como eu podem querer seguir a sua jornada mas apenas parcialmente. Não conseguirei ir contigo até onde quer chegar. - Desta vez o Tatu foi sensato.
Lizzi sentiu uma mistura de sentimentos entre pena e motivação de poder seguir sua jornada sozinho como queria. Ajudou Lairson a se levantar. Os humanos tomaram uma direção diferente das que eles se encontravam.
- Temos que encontrar uma subida menos íngrime para que você possa voltar para a floresta - disse Lizzi.
- Ok, já estou vendo uma daqui. - Mais à frente havia uma rampa de concreto, que fazia parte de uma das laterais de um sistema de escoamento de água em forma de escada, contruído pelos humanos para se evitar o empoçamento de água nas partes superiores.
- Se cuida meu amigo - Disse Lizzi com um sorriso.
- Desejo-lhe o mesmo Liz! Se você não morrer passe na minha toca e me  encha a cabeça com as histórias desta aventura sem sentido!
- Certamente Sr. Tatu! - Concluiu Lizzi, o Tatu fez uma reverência e saiu sem maiores abraços, comentários ou considerações.
Essa atitude foi, de certa forma, diferente para Lizzi. O Tatu insistente cedeu lugar ao Tatu objetivo e sensato. Foi a primeira vez que Lairson se portou desta maneira, em toda a sua vida.
Os dois amigos iam se afastando a cada passo, cada um em uma direção diferente. Lizzi olhou o Tatu subindo lentamente a ladeira de concreto. Não pôde deixar de sentir uma certa tristeza. O Tatu sequer olhou para ele. A preocupação de Lairson limitou-se exclusivamente a voltar para sua toca.
Quando Lairson saiu das vistas de Lizzi, o sentimento que ficou não foi de perda mas de mudança. Lizzi iria recomeçar e precisava pensar logo para onde deveria ir.
Atravessou a rua asfaltada, chegou à lateral de um prédio de tijolos alaranjados e encontrou um buraco perfeito logo na parte mais baixa da parede. Lizzi foi checar o buraco para saber se poderia de alguma forma dar uma espiada para dentro do prédio. Tinha conhecimento de que os humanos utilizavam estas construções de prédios como tocas e uma espiadinha neles era tudo o que queria fazer no momento.
Se expremeu para entrar no buraco que parecia muito menor agora, patas à frente, contorção e, de forma magnificamente expremida, Lizzi finalmente conseguiu passar.
O caminho seguia de forma única, com uma curva fechada à esquerda. Lizzi já estava quase desistindo de continuar se expremendo quando seu focinho bateu em uma grande de ralo, fina, suja e fria.
- Caminho de rato mesmo, só podia ser! - Pensou Lizzi.
Lizzi estava em um buero, com o focinho encostado na grade e de lá conseguia observar o fluxo de humanos: Alguns conversavam de forma entusiasmada, outros tomavam bebidas em copos plásticos. Vestindo roupas engraçadas, os humanos-machos com línguas de pano anexada no peito, as humano-fêmeas de longos cabelos e vestimentas menores. A dinâmica de observação dos humanos fascinou Lizzi!
Os humanos não podiam ver Lizzi (ou pelo menos não notavam a presença de seus olhos na grade do ralo de escoamento).
Este buraco recém-encontrado foi adotado por Lizzi como ponto de observatório. Ali perto, do lado de fora do prédio existia uma toca mais confortável para Lizzi descansar e ele adotou esta outra toca como uma casa temporária - Ele queria observar os humanos por mais tempo.
O que Lizzi tinha visto é um prédio comercial, um local de trabalho dos humanos. Todos os dias Lizzi ia para o buraco, observava os humanos e voltava para sua toca sem nunca ser pego.
Observou o homem magro e calvo convocar reuniões de trabalho, chamando outros humanos-suordinado a entrarem na “roda”.
Observou a mulher fofocar de sua amiga para outra mulher e dizer como a vida da outra está melhor do que a dela.
Observou três amigos conversando, um dizendo que gostaria muito de ter um carro igual ao do seu chefe.
Observou a faxineira feliz cantarolando em alguns dias, chorando em outros dias, deprimida na maioria dos demais dias...
Lizzi começou a traçar o perfil dos humanos em sua mente: Eles queriam ter coisas, eles queriam ter poder, eles queriam ter famílias perfeitas e empregos diferentes, eles não queriam estar ali, e, grande parte das vezes, eles não queriam nada.
Lizzi se lembrou de sua antiga toca na floresta. Lembrou-se do velho Tixão, lembrou-se de Lairson, lembrou dos sapos jogando cartas, das conversas sem sentido e da vida matreira e boêmia. Comparou com a liberdade que estava tentando encontrar nos humanos. Comparou com a sua liberdade atual e de que TIPO de liberdade ele tinha na floresta.
Lizzi voltou para sua casa na floresta, para sua toca. Um sentimento de grande epifania se apoderou dele - Lizzi esta feliz pela primeira vez em toda sua vida!



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Contos - Contra Falsos Documentos não há Argumentos!


- Nome?
- Sandoval Machado Silveira.
- Documento?
- Não tenho.
- Você não trouxe nenhum documento?
- Não senhora. Eu disse que não tenho nenhum documento.
- Como espera conseguir algum emprego em nossa agência sem ter qualquer tipo de documento? O senhor perdeu seus documentos?
- Não senhora. Eu joguei tudo fora depois que eu perdi minha verdadeira identidade e...
- Olha, sinto muito, não há nada que eu possa fazer por você, nem mesmo posso pedir para que o senhor preencha nossa ficha com seus dados. A agência exige que o candidato apresente ao menos um documento!
- Calma senhora, eu posso provar que sou um bom trabalhador e uma pessoa honesta. Além de tudo sei escrever muito bem e tenho condições não só de preencher a sua ficha, mas de lhe redigir uma redação inteira sobre como obter documentos pessoais!
- Se sabe tão bem como tirar os seus documentos pessoais a ponto de escrever uma redação por que não tirou algum documento antes de vir pra cá??
- Já lhe disse, eu joguei tudo fora quando perdi minha verdadeira identidade!
- Ah é? Que loucura é essa de jogar seus documentos pessoais fora por ter tido uma crise de identidade?
- Eu não tive uma CRISE de identidade, eu perdi meu documento de identidade, o verdadeiro!
- Hahaha, olha, queira se retirar por favor, vou chamar o próximo...
- Quer dizer que não tenho o direito de querer trabalhar?
- Direito o senhor tem mas sem nenhum documento em mãos eu não posso fazer nada e isso é uma perda de tempo muito grande e ...
- Aqui está, veja se este documento serve!
- Ué, mas o senhor disse que não tinha nenhum documento!!!
- Este documento não é meu, apenas a foto é minha, as demais informações são falsas, pertencem a uma outra pessoa qualquer.
- E o que o faz pensar que eu aceitaria este documento sabendo que é falso? Isso é estelionato sabia?
- Se eu não lhe dissesse que é falso você aceitaria este documento?
- Obviamente que sim pois me parece verdadeiro, mas o senhor teria consequências assim que descobrissem a falsidade...
- Então pronto! Está aí! É melhor empregar uma pessoa sem documento ou um estelionatário?
- Senhor, cada pessoa age com o que acha que está certo, se o senhor quer trabalhar nesta obra através desta agência então tem que procurar ser uma pessoa honesta, fazer as coisas de maneira correta, consegue compreender isso?
- Mas eu estou sendo correto e verdadeiro, eu te disse que o documento é falso e que não tenho documentos que pertencem à minha pessoa. Não tenho como tirar qualquer documento pessoal por razões que eu demoraria uma vida tentando explicar e também não quero mais viver na falsidade! Quero um emprego porque preciso dele, e de forma honesta!
- Então dê um jeito de tirar novamente o documento de identidade que você perdeu e volte aqui para preencher esta maldita ficha e se candidatar ao emprego! Infelizmente não posso fazer nada por você! Próximo!
- Senhora, estou sem dinheiro pra comer mas obrigado por me receber...
- O próximo!!! Cada um que me aparece... Nome??
- Sandoval Machado Silveira.
- Documento?
- Aqui está! Por que está tão nervosa senhora?
- Acredita que este camarada que saiu queria se cadastrar na agência sem qualquer documento pessoal e ainda tentou apresentar um documento falso? Um absurdo! Eu não aguento esse tipo de coisa, me tira do sério, do sério! Que povinho é esse de nosso país não?
- Pois é... bem, aqui está minha ficha preenchida.
- Muito bem, como o senhor preencheu que já trabalhou em diversas obras pode iniciar a segunda fase do processo seletivo amanhã às 08:00. E leve seu documento, por favor!
- Levarei, com certeza!

"Em memória a desagradável experiência de ter meus documentos clonados por um estelionatário há mais de 4 anos e até hoje sofrer com isso em um processo que não tem fim. Infelizmente, a justiça no Brasil parece não favorecer muito aos honestos, parece que é mais fácil fazer a coisa errada do que provar de alguma maneira que você está certo ou fazer algo com honestidade e dignidade."

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Into The Wild

"My Days were more exciting
when i was penniless"


Poucos são os filmes que conseguem a proeza de nos transmitir uma verdadeira mensagem de impacto, algo que realmente possa marcar a nossa vida de uma maneira boa! Marcar a nossa vida de uma maneira ruim, bom, digamos que isso é mais fácil... =)

Cada um de nós temos uma personalidade, um gosto diferente um do outro e muitas vezes o que me agrada dificilmente irá agradar alguma outra pessoa e vice-versa.
Mas no meu caso, o filme Into The Wild - Na Natureza Selvagem me acertou em cheio, como um raio inesperado, algo que bateu forte em meu coração e em minha mente questionadora!

Sem querer aprofundar muito na sinopse, o filme conta a história de Christopher McCandless, um jovem que, ao se formar com prestígio abandona a tudo e a todos, queima todo seu dinheiro e sai de viagem em direção ao Alasca, seu destino final.

Inspirado por escritores como Henry David Thoreau e Jack London, ele traça seu objetivo: Viver intensamente cada dia de sua vida em meio à Natureza Selvagem, longe da  sociedade, longe de tecnologias, desapegando-se completamente de tudo e resgatando a integração do homem primitivo junto à natureza.

Deixando de lado muitos de meus gostos pessoais principalmente com relação à trilha sonora interamente interpretada por Eddie Vedder e pela condução impecável do filme pelo diretor Sean Penn, gostaria de resumir este post aos pontos de profunda reflexão para nosso sentido e maneira de viver.

Coisas Coisas e mais Coisas

 Há uma cena no início do filme onde os pais de Chris querem presenteá-lo com um novo carro como reconhecimento de sua formatura, em substituição ao seu velho veículo Datsun que, segundo sua mãe, irá explodir em breve de tão velho e fora de moda!

Obviamente Chris recusa o presente de forma enérgica, dizendo que adora seu carro e que não precisa de um carro mais novo, que as pessoas sempre querem "coisas e mais coisas", nunca estão satisfeitas com o que têm... e ainda questiona os pais se eles sentem vergonha de ter um filho motorista de um Datsun!

Essa cena me chamou muito a atenção pois sei que a maioria dos jovens ADORARIA ganhar um novo carro de seus pais para substituir o seu carro velho. Caso seus pais não possam lhes dar essa "dádiva" de presente então os jovens se contentam em financiar seu novo veículo, felizes por terem um novo, mais moderno, chamativo (e caro) veículo.

A pergunta é: Você precisa MESMO de um carro novo? Seu carro velho não funciona mais? Se juntar o valor de 3 ou 4 parcelas de um carro novo não tem como você mandar arrumar seu velho carro?

Eu mesmo já sofri demais pagando inúmeras parcelas de veículos que eu comprei em minha vida. Hoje penso que mesmo se eu tivesse dinheiro para comprar um carro novo à vista eu preferia usar este dinheiro para viajar com minha família ou qualquer coisa que não representasse meu envolvimento com alguma coisa material altamente depreciativa. Mas sinceramente demorou pra me cair essa minha ficha...


O Evangelho da Sociedade 

Este evangelho prega que devemos todos estudar muito para se ter uma profissão que consiga muito dinheiro! E o tudo desta vida é basicamente isso, conseguir dinheiro! 

E não adianta, um bom status financeiro chama atenção e parece falsamente compor um caráter de pessoa "mais elevada" na sociedade. E isso é realmente muito triste. Quem já não viu fulaninho dizer "Nossa, o Zé Ciclano se deu bem, tá com apartamento duplex na praia, um carrão... e seu primo coitado, esse tem um casebre de madeira até hoje e seu fuscão lá!".

Quem é que pode dizer que o Zé Ciclano que tem o apartamento na praia e o carrão é mais rico que o que tem um casebre e o fusca? Será que o Zé Ciclano ainda tem muitas parcelas ainda pra pagar de seus bens? Mesmo se não tiver dívidas certamente terá de manter seus bens com impostos, condomínio, taxas, seguros, etc.
Será que o dono do casebre e do fusca já não está com seus bens pagos? Será que ele não vive uma vida mais tranquila por não ter que manter coisas caras e ter que ter um emprego muitas vezes desgastante para conseguir manter tudo isso? Como diz Thoreau: "Um homem é rico em proporção às coisas que ele pode abrir mão".



A Reintegração do Homem à Natureza

Com o avanço da sociedade e das tecnologias, o homem simplesmente perdeu seu vínculo com a natureza, com a simplicidade das coisas naturais que fazem o mundo girar. Claro que há exceções, (isso sempre há) mas pense quantas pessoas você conhece que se senta debaixo de uma árvore no campo e pára meia hora apenas para observar o que se passa? Ou ainda que goste de tomar um banho de rio? Ou que observa as formigas se movimentarem, os pássaros nas árvores ou contempla uma bela tarde que se levanta pós chuva? Se você comparar com uma amostragem de um todo, vai ver que com certeza são poucas as pessoas que ainda observam e interagem com respeito à natureza. É mais fácil encontrar gente à frente de um computador ou televisão do que preguiçosamente curtindo uma fogueira ou conversando devidamente sem pressa ao ar livre.





Você pode todas as coisas, basta querer mudar!


A amizade entre Chris e o Sr. Franz, um senhor solitário que perdeu sua família em um acidente é um ponto alto do filme. Chris desafia Sr.Franz a sair de sua toca, fazer coisas simples que ele nunca fez como escalar a pé uma pequena montanha para olhar a paisagem, algo que tira Sr. Franz de sua zona de conforto.

Sr.Franz: Filho de que diabos está fugindo?
Chris: Eu posso te fazer a mesma pergunta mas já sei a resposta.
Sr. Franz: Sabe é?
Chris: Eu sei Sr. Franz, você precisa voltar para o mundo lá fora! Sair de sua solitária casa! Você vai viver por muito tempo, deveria fazer uma mudança radical em seu estilo de vida - o centro do espírito de um homem vem de experiências novas! E você está aí, um velho homem sentado em sua bunda!





Uma Lição de Moral 
 
Christopher Mccandless pode ter sido radical por ter ido embora sem falar com ninguém e sem estar comunicável, não se importou com as pessoas que o amavam, talvez tenha sido extremamente egoísta a ponto de levar seu objetivo de forma frenética até o fim, sem se importar com mais nada! Siiiim, é verdade... mas, por outro lado, ele foi verdadeiro com seu coração livre, buscou viver a verdade em que acreditava, com argumentos fortes e persuasivos para as pessoas de todas as classes ao seu redor.

Excluiu de seu ser os valores de uma sociedade hipócrita e condicionada ao dinheiro, reintegrou-se à natureza como todo homem deveria fazer, sendo nós parte deste planeta e deste mundo. Amou os trabalhos mais simples que não lhe deram tantas experiências profissionais mas experiências de vida e amou seus dias mesmo percebendo que a felicidade verdadeira está em compartilhar sua estrada com alguém ou "alguém(s)".

Por fim, a frase mais célebre e linda, quando seu amigo fazendeiro Wayne lhe pergunta "Mas e aí, o que se faz quando você chegar ao Alasca?" Chris lhe dá a simples resposta mas tão rica como um tesouro perdido que todas as pessoas passam a vida a buscar: "O que se faz? Se vive cara!"


domingo, 21 de outubro de 2012

Contos - Nostalgia

          Estou sentado em minha pequena sala vendo o que sobrou de um filme no último canal ainda aberto. Passa das três da manhã, televisão convencional, um pouco de faroeste dos anos 60 não é de todo ruim...
Não consigo pensar direito. A bebida faz meu mundo girar. O estado de nostalgia invadiu o meu ser e tomou posse de meu estado que ainda estava bom, aquela sensação de liberdade em regime de semi-embriaguez que sempre consegui com poucas doses.
Alguma coisa passou lá fora, na rua. Há um barulho de alguém batendo lata. Olho para baixo da sacada de meu velho apartamento. Um bêbado conversa com uma caçamba, dá um chute, bate uma garrafa de cerveja sem chegar a quebrar e ri... ri e sai cantarolando.
A cidade está morta! Não ouço qualquer barulho depois que o bêbado se foi. Consigo ver ao longe as luzes amarelas do semáforo piscando – pode passar meu chapa, não tem ninguém a essa hora...
Olho para o relógio de parede na cozinha...3:17, o filme tomou ação! Um homem atirou em outro mas não há sangue -  ele morre com uma bala cravada no peito sem qualquer mancha de vermelho em seu peito coberto por uma justa camiseta branca. Que sensura louca essa dos anos 60! Mesmo assim Clint Estwood parece um cara malvado.
Vou para a minha minúscula cozinha caçando algo para comer. Se tiver alguma bebida, qualquer uma que seja, será ainda melhor. Ainda  falta um pouco para poder desabar no sofá empoeirado e aconchegante.
    Há apenas ovos, tomates estragados, um pote de açúcar e um pouco de refrigerante diet comprado por mim para a  fresca da vizinha do apartamento em frente ao meu, em comunhão ao seu piquenique-vegetariano - belos olhos, belíssimos olhos mas só, o resto do papo é tão revigorante como seu maravilhoso refrigerante diet!
Cada merda que a gente traz pra casa! Ah Gabrielle, sinto sua falta! Nunca conseguirei fazer com que você volte. Maldito seja eu com minhas melindrices! Perdi minha Gabrielle para o nerd com pinta de Bill Gates, seu maravilhoso parceiro em seus maravilhosos trabalhos voluntários. As crianças carentes precisam de Gabrielle! Elas realmente precisam dela e da porra do nerd Bill Gates também!
    Sem nada para comer e a padaria está a três horas de distância de abrir, deito-me em meu sofá. Basicamente foi apenas isso que me sobrou - um minúsculo apartamento praticamente sem móveis. Melhor porque não junta tanta bagunça e poeira. Sinceramente já não me importo mais...
    3:30, vou adormecer no final do filme. Escuto meu celular vibrar: Gabrielle, penso eu!  Se for ela eu dou o braço a torcer, me rendo a qualquer capricho, eu peço pra ela voltar, digo que a amo e... é uma mensagem dizendo que não fui contemplado no sorteio semanal! O que leva uma operadora de telefone a mandar uma mensagem automática no meio da madrugada?
    O mundo todo conspira contra os maltrapilhos afundados nos sofás! Hoje a festa foi boa mas não me diverti. A bebida foi minha companheira. Meus amigos nunca foram verdadeiramente amigos mas mesmo assim tento me fazer levar pela boa vizinhança e pelo falso social que nunca me satisfaz.
    Vou ao banheiro, olho no espelho, barba por fazer, cabelo bagunçadíssimo. Me sinto um lixo mas estranhamente belo ao mesmo tempo. O Bill Gates de Gabrielle é muito pior, muito pior, infinitamente pior... Mas eu a perdi, como lobo que perde a presa mais difícil de ser conquistada, como um poeta que perde seus registros, como um novo amante perde sua amada na melhor noite de amor, aquela que verdadeiramente é registrada nos diários que contemplam a nossa existência...
    Lavo o rosto, não quero tomar banho, volto para o sofá, o filme acabou, não há mais canais, não há mais barulho, não há mais ninguém.
    Deito no sofá e adormeço para que também eu possa apreciar o final e me desligar com o mundo ao meu redor. Que o final me abrace com suas solitárias e malvadas ruas do faroeste dos anos 60. Ah Clint mê de um tiro...

Próximos Capítulos:
Nostalgia II 
Nostalgia III - Fim... 

Um blog de Contos e Fatos!

Caros amigos leitores!

Este é um blog (meu primeiro e talvez único BLOG) em que irei compartilhar textos de minha autoria, loucas idéias e anotações de observações deste mundo! Meus sentimentos para compartilhar tudo isso publicamente explodem em minha mente e em meu coração!

 Não tenho o dom artístico de transmissão de idéias e sentimentos com palavras mas espero com certeza poder realizar um trabalho verdadeiro e sim, muito empolgante para mim!

Minha dedicação especial vai para minha amada esposa Kelly e meu maravilhoso filho Cauã, os quais sempre me inspiram e renovam o aprendizado de minha vida, todos os dias.

Um grande abraço à todos!

Daniel Vitório.

Alive.