- Eu tenho tanto a lhe contar amigo Tom...
- Fale-me amigo, não há melhor momento do que este!
- Estamos aqui, você e eu, sentados nesta praia com o pôr do sol estampado em nossas faces, em meio ao som da maré indo e vindo, um aroma salgado... tudo isso me inspira de uma forma descomunal!
- Que pensas?
- Amigo Tom... quantas pessoas que você conhece que têm a oportunidade única e incrível de estar aqui sentado sem estar necessariamente fazendo alguma coisa, mas apreciando e somente apreciando? Tenho aqui em minha frente o cenário, um grande amigo ao meu lado, um pouco de água pra beber... sei lá, pelo menos para agora não preciso de mais nada, concorda? Veja, muitas pessoas não têm nem mesmo a chance de vir à praia!
- Mas quando elas podem vir parecem não aproveitar direito...
- Elas não percebem e nem se apegam aos detalhes! Amigo Tom, meu velho... penso em todo o stress das famílias na praia por coisas tão tolas quanto uma lata de cerveja... nós somos muito infantis e ainda assim se fôssemos verdadeiramente crianças seríamos um infantil-bom porque aproveitaríamos cada mísero grão de areia caindo em cima da gente, rolaríamos na areia molhada e criaríamos castelos. brincaríamos de... qualquer coisa, me entende?
- Faça um castelo de areia!
- Falta meu baldinho e pazinhas! Mas na verdade poderia fazer com minhas mãos nuas, concorda? Então posso dizer com toda a certeza a ti que não me falta nada para fazer um castelo de areia...
- Tens razão...
- Outra coisa que penso: e quando a integridade física de uma pessoa impossibilita este incrível viver? Porque motivo a vida é tão boa com uns e tão cruel com outras?
- É meio triste...
- Sim, e sabe por que? Porque tudo nesta vida é sofrimento! Todos buscam a felicidade, e para isso precisam que cesse todo o sofrimento. É um lance budista amigo Tom. Tá vendo o barco lá na ponta? Que pensam os que estão ali dentro? Estão vivendo somente o navegar neste incrível mar azul, em meio a um vasto oceano de nosso incrível planeta ou estão envolvidos em alguma tarefa ali sem perceber onde verdadeiramente estão, fazendo-se cumprir um objetivo qualquer?
- E o que são os objetivos não é mesmo?
- EXATO amigo Tom! E por que tantos objetivos? Para nos afastar cada vez mais dos sofrimentos! Navego para pescar, trabalho para comer, para não sofrer de fome, de opressão, para cuidar de meus filhos... compro para me saciar, para não sofrer a desigualdade de não me enquadrar na sociedade. Caso-me com uma moça...para não sofrer estando só. Percebe?
- Jamais pensaria por este lado...
- É por isso que és valioso, tu amigo! Porque refleti hoje e posso lhe compartilhar tais coisas... Nossa amizade é eterna amigo Tom!
- Você é valioso pra mim também amigo...
- Somos um pedaço da existência de qualquer coisa, estamos na condição de pertencentes ao meio e ao universo desde tempos muito, muito remotos! E estamos aqui agora. Sabe amigo Tom, eu realmente não soube aproveitar o amor de minha família, de meus dias nos lugares onde estive, de minha poderosa condição humana de compaixão... e agora este vento bate em meu velho rosto cansado e sinto que poderia ter sentido mais disso. Mas quer saber? Estou vivendo este pedaço de momento único e incomparável. Um pequeno pedaço de vida vivida...
- Só não sabemos até quando viveremos...
- Amigo Tom, quando pisarmos na borda do mar, ali onde a maré se acalma e acalanta a terra, iremos perceber que esta questão não mais importará... porque os momentos estão sendo vividos e acredito que somente percebendo as coisas desta maneira estaremos bem mesmo quando chegar a nossa hora.
- Então vamos viver! Vamos logo pisar na água do mar... haha
- Vamos amigo!