segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Conto - A Cabana

"Inspirado por dois de meus ídolos literários, Jack Kerouac e Henry David Thoreau..."


Era uma sexta-feira, uma tarde onde a chuva havia cessado e os raios de sol voltavam a trazer a vida alegre para o mundo.

Eu procurei por meu amigo em sua cabana no meio do mato, cabana barroca que margeava o lago, onde aromáticos perfumes conhecidos por minha mente invadiam o meu ser de forma a me integrar a melhor das sensações de um espírito livre e aventureiro.

Era uma simples e minúscula cabana, construída com as mãos fortes e habilidosas do meu amigo carpinteiro, sempre e sempre amador e muito, muito cuidadoso, lento e perfeito!

Encontrei a cabana do mesmo jeito que eu me lembrava em minha última visita, a pequena janela de madeira entreaberta, o vidro superior trincado, a porta com manchas amareladas que o tempo insistia em continuar carimbando, o rodapé gasto, as madeiras desgastadas e belas, de uma visão aconchegante que dava um ar rústico de algo que jamais precisava estar novo e no lugar. O velha e aconchegante cabana onde costumávamos tomar chá e comer pães de forno antes e depois de escurecer. E nas noites de inverno a cabana rapidamente se aquecia com pouca lenha e muita prosa regada à vinho e boas lembranças de um mundo utópico que só existia em nossas mentes fora de padrão.

A embriaguez do vinho nunca foi maior do que a loucura das conversas que tínhamos à respeito da civilização vendida aos padrões consumistas de nossa época moderna, dos sentimentos condicionados à modelos de beleza e de patrimônios, sociedade falsa, líderes falsos, religiões falsas, amores falsos, loucuras falsas!

Sentíamos que toda a verdade fluía dentro da cabana, ela era o nosso refúgio e descanso de mente, o nosso maior e único bem. Não precisávamos de mais nada, não precisava existir mais nada! O globo ocular e o globo hemisférico não mais significavam a diferença das distâncias perceptíveis em escalas de medida. A única medida era o a de que não precisávamos ter nada, jamais. Roupas... Abrigo... Alimento... Combustível... Meu amigo estava certo, isso bastava e era tudo!

Procurei por ele dentro da cabana e ele não estava. Fui ao forno, ao depósito de lenha atrás da cabana e também não o encontrei ali. Andei margeando o rio e mais uma vez não o encontrei. Então eu retornei à cabana.

Aqueci o forno para fazer alguns pães, uma hora meu amigo retornaria e poderíamos retomar a prosa da última semana. Os pães ficaram prontos, a garrafa de vinho que eu trouxe permaneceu lacrada à espera dos momentos de conforto e palavras loucas. Mas meu amigo não retornou e eu adormeci na cabana.

Quando os primeiros raios de sol invadiram o interior da cabana, eu despertei rapidamente e de forma assustada, preocupado com meu amigo que não voltou ao seu lar. Saí para fora, o dia era muito claro, um céu sem nuvens, muitos pássaros se agitavam em frente à cabana.

Neste momento eu subitamente compreendi! Como uma verdade há muito oculta, como uma epifania que rapidamente se instala em nosso espírito sempre agitado, espírito sempre inconformado com a vida!

O conforto da cabana, da prosa, dos pães, chá e vinho, da natureza ao redor, do isolamento de sociedade, dos padrões, dos bens materiais, a felicidade do verdadeiro desfrutar, a AMIZADE... tudo isso sempre existiu... sempre existiu na condição básica de nossa mente, aquela que sempre busca voltar a seu estado original mas que anda tão perturbada e inquieta que é impossível perceber...

Quando percebi e reconheci a verdade de tudo isso, vi meu amigo retornando, vindo do margem do lago, trazendo em mãos alguma provisão de lenhas e folhas, no semblante um sorriso e satisfação em me ver.

Perguntei onde ele estava e ele me olhou com os olhos mais serenos do universo, e disse apenas:

- Estava aqui o tempo todo, você é quem não percebeu.

Escrito ao som de Pearl Jam - Present Tense

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