quarta-feira, 29 de maio de 2013

Contos - O Último Rockstar


"Hoje eu encontrei um caderno meu da época de colegial, ano de 1998. Na contracapa eu havia escrito "Kurt Cobain Rules! Sempre vivo!", e me bateu uma saudade dos velhos tempos de moleque roqueiro! Esta é uma pequena homenagem ao último Rockstar, o insano e mestre do grunge... o inesquecível!"

A multidão está gritando à plenos pulmões do lado de fora, um som que soa abafado e ritmado, totalmente compreensível. E ele está sozinho em seu camarim, um belo camarim de um verdadeiro astro da música, o tipo de lugar que ele sempre faz questão de explodir com suas loucuras e trejeitos exacerbados, espontâneos como quando andava de um lado para o outro, falando com ele mesmo, socando as paredes, rabiscando algum poema melodramático e melancólico.

E ele não estava nem aí, faria o mesmo se estivesse em um bueiro, sem nenhum conforto, tendo que compartilhar um vinho barato com ratos e insetos. Garrafas vazias de bebida estão espalhadas pelo chão. Não que ele ou seus companheiros de banda tivessem acabado com tudo, mas tudo o que sobrava simplesmente não deveria ter sobrado, e com essa convicção encrustada em seu cérebro, fazia questão de jogar tudo fora, pelo chão, pelos sofás, pelo ralo da pia ou privada. Era sempre assim, deveria ser assim.
Já não se drogava pelo prazer mas sim para diminuir sua dor, não uma dor psicológica mas sim uma dor física, estomacal, dilacerante, cortante, algo cultivado durante seus anos de loucura e que jamais teve cura.

Ele estava ali, em seu momento exclusivo, sozinho, sem seus companheiros de banda para lhe fazerem piadas, sem sua mulher para lhe fazer críticas e classificar suas ideias como ridículas e sem seu empresário com visionárias ideias voltadas apenas para capitalismos e negócios que visam distribuir às sangues-sugas os frutos de sua criação artística.

Restavam 5 minutos para iniciar mais uma apresentação. Ah, sim, seus fãs iriam ao delírio mais uma vez, socariam-se socialmente entre si, em um frenesi de êxtase e loucura, todos completamente dominados pela música simples, pesada, com sentido psicodélico e agressivo, que mentalmente saciava o sentido crítico de suas mentes e extravasavam suas maiores revoltas em suas vidas fúteis e sem sentido. E qual o sentido de sua própria vida? O desejo de se expressar era uma força poderosa, mas a obrigatoriedade de sempre ter que se expressar acabava com sua liberdade, colocava a hipocrisia acima da arte, o comércio acima da verdade e a automaticidade acima da naturalidade!

Ele estava cansado disso tudo, queria poder voltar atrás... mas haviam os contratos, ahh os contratos, sempre eles, que nos obrigam a fazer coisas que não queremos pois ainda não acabou o "prazo de validade” e temos que continuar, pela merda da gravadora, pelos companheiros de banda, pela agenda, pela corrida por tickets, vendas, sorrisos, autógrafos, visitas inesperadas da família...

O artista estava verdadeiramente cansado e iria subir no palco mesmo assim. Os caras da banda voltaram e o puxaram pelo braço para começarem o show. Sempre o deixavam sozinho durante um tempo no camarim, um pedido feito por ele mesmo e todos respeitavam este ritual. Para ele era o melhor tempo que poderia ter para suas reflexões e rascunhos de novas canções, cada vez mais agressivas e de sentimentos complexos.

A banda entrou no palco e a multidão gritou. Sem qualquer sorriso no rosto, de uma forma sonolenta, quase triste, ele desejou a todos uma boa noite e explicou que esta seria uma apresentação especial, pois estava meditando na conexão de vida de todos os que estavam ali presentes. Falou de maneira honesta e desconexa, muito embora bastante complexa, palavras rapidamente descartadas pelo público, que colocou à frente a ansiedade de começar o show com gritos e aplausos automáticos.

Pegou sua guitarra já afinada, uma Fender Jaguar de cor vermelha, desafinou-a de seu próprio jeito, fez dois acordes-testes “Fá e Sol” e iniciou o principal hit da banda, tocando logo de cara a principal música, sucesso nas paradas, para descontrole e saciedade do público, e para ele, alimentar seu lento definhamento e melancolia sobre tudo o que estava fazendo. O show seguiu, ele estava sentindo a fluência da música, seus companheiros de banda tocavam alucinadamente e ele, mais uma vez, cantava, gritava e tocava como se quisesse explodir com tudo e com todos! Todo este CIRCO já não era mais sua paixão mas sim sua válvula de escape, sua oportunidade de desabafar a todos em formato de notas musicais distorcidas e gritos dilacerantes, do fundo da alma.

A última música terminou em uma fração de tempo menor do que ele havia previsto. A banda saiu do palco, e ele agradeceu ao público com olhos vazios, sem expressão, sem nenhuma imagem formada em sua mente, em um estado de quase meditação contemplativa de seu próprio ser. E assim terminou-se mais um show. E assim desceu do palco o último Rockstar.

"Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo" - Kurt Cobain

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Contos - O Amolador de Facas

 

 I

O solitário homem caminhava por uma estrada de terra, um caminho há muito abandonado pelos carros de bois e charretes. Uma estrada em condições precárias, atualmente utilizada somente por viajantes solitários como ele. A diferença é que quase sempre os viajantes usavam um cavalo como transporte e ele sempre, e por toda a sua vida, andava a pé.

O sol raiava alto, poderoso, o calor abrasava suas roupas e suas botas ferviam a cada passo na terra batida e empoeirada. Mas ele não se importava com isso, foram anos a fio caminhando e oferecendo seus serviços de amolador de ferramentas nas casas solitárias e pequenos vilarejos. Carregava sua grande bolsa tiracolo, desgastada pelos anos de trabalho, andando por regiões em que o tempo parece ter parado de vez, e onde o avanço da civilização jamais se fez presente, locais desinteressantes para o comércio, para a tecnologia, para o emprego e desenvolvimento.

Mas como ele amava estes lugares! Conseguia ver a beleza nas estradas percorridas a pé, do jeito mais natural possível, sempre junto com sua bolsa contendo suas ferramentas de amolar. Quando fechava algum negócio com um cliente, ali mesmo na hora, ele se sentava, tirava da bolsa o caixote, o rebolo, a manivela e junções, todo o equipamento artesanal construído por ele, que era cuidadosamente montado, peça por peça. Então ele trabalhava amolando as ferramentas dos senhores e senhoras, para os poucos que ainda se propunham a pagar pela comodidade de ter suas facas, facões e foices devidamente afiados e prontos para dias de trabalho, até que a lâmina de corte voltasse a se desgastar.

Haviam dias onde não se conseguia qualquer trabalho, e também com isso ele não se importava. Gastava pouco consigo mesmo, não precisava juntar dinheiro pra nada, trabalhava e caminhava todos os dias simplesmente porque gostava, por sua opção pessoal, porque era sua vida e estava satisfeitíssimo com isso!

Continuava o homem a caminhar... ele já se estava há algumas horas nesta estrada, logo a tarde iria começar a desaparecer no horizonte e ele precisaria de um lugar para passar a noite e também de algum local com água para abastecer seu pequeno cantil, se lavar e cozinhar alguma coisa para o jantar. Ele sabia que logo iriam surgir algumas casas adiante nesta estrada, apenas perdera a noção de quanto ainda teria que caminhar para alcançar o vilarejo, além de grandes fazendas onde geralmente e de forma muito comum, não era muito bem vindo.

Em um determinado momento ele olhou para trás e viu que havia um pequeno cão marrom de pelos pardos, seguindo seus passos. Não se deu conta exatamente de quando o animal começou a segui-lo, estava tão absorto em seus pensamentos que não percebeu as coisas que aconteciam ao seu redor. Se abaixou e estendeu uma mão em direção do focinho do cão:

- Olá amigo! - Sua voz saiu rouca e grave, ao mesmo tempo amistosa e receptiva.

O cão se aproximou e cheirou sua mão, deu duas lambidas, abaixou as orelhas e balançou lentamente o rabo, respondendo amistosamente ao gesto do homem.

- Talvez eu tenha alguma coisa pra tu beliscar. Tua companhia é bem vinda amigo! - ele afagou as orelhas do cão e ali firmaram a amizade, como se estivessem apertando as mãos. - A quem tu pertence bichano?

Tirou da bolsa uma tira de carne seca que havia comprado de um mercador em sua última visita há quilômetros atrás. Ofereceu a tira inteira ao cão, que por sua vez abocanhou com vontade, mas uma vontade quase sociável, quase educada. Era um cão magro, devia ter fome, mas mesmo sem saber o por quê, o homem acreditou que não era por conta da fome que o cãozinho o seguira. Solidão talvez? Ele sorriu.

- Bora comigo caminhar um poco mais Mirradinho? - E o pequeno cão mirradinho foi com o homem, seguindo seus passos.

A noite começou a cair sobre o homem e o cão. Pararam debaixo de uma árvore com uma grande copa, um Tamboril adulto e verde, próximo a um pequenino riacho em uma região de baixada. Ali o homem acendeu uma fogueira e sentou-se encostado na árvore. O cão deitou ao seu lado. O homem olhou para o cão e sorriu. Era uma ótima companhia e faria bem passar a noite ao lado dele.

- Mirradinho, vamos dividir um rango aqui, espero que tu não tenhas o hábito de comer demais porque o muito eu não tenho, como pode ver aqui nos meus pertences, veja!

E eles comeram juntos e repousaram. O homem desenrolou um papel com fumo de corda, retirou uma palha de milho e enrolou seu cigarro para descansar de sua caminhada.

O cão adormeceu e o homem o contemplou, assim como contemplou as estrelas e o luar, e também contemplou a noite morna e silenciosa, onde os insetos eram os compositores da única intensidade sonora no mundo deles.

II

Ao amanhecer o cão havia partido e, da mesma forma que o homem não percebeu a presença da chegada do cão no dia anterior, também não notou sua saída.

Calçou suas empoeiradas botas, lavou seu rosto no pequeno riacho, alisou seu cabelo e sua barba com as mãos molhadas e frias. Juntou seu material de trabalho, arrumando tudo na bolsa e recomeçou sua caminhada, certo de encontrar casas adiante e quem sabe um local onde poderia tomar seu desjejum.

Após caminhar por meio dia, avistou um pequeno vilarejo adiante, com algumas casas próximas entre si, com cercado de animais e grandes placas de madeira, o que indicava que ali haveria comércio. Ao chegar, notou que o vilarejo tratava-se de uma região central de uma pequena cidade. Notou a igreja e a praça principal, algumas carroças andando pelas ruas, crianças brincando e pessoas negociando objetos e serviços.

Parou em uma casa de venda de pães e farinha. No balcão pediu um pão com manteiga, uma rosca doce e um café para tomar seu desjejum. Tirou do bolso duas moedas e entregou ao comerciante.

Enquanto o  homem se alimentava, o comerciante o olhava curioso e tinha muito interesse em saber o que este homem fazia por estas bandas e o que carregava em sua bolsa. O comerciante não se aguentou mais e perguntou ao homem:
- Indo pra onde?
- Por enquanto tomando um café. Mas vou dar uma volta por aqui pra tentar vender meu serviço de amolar facas e ferramentas. O senhor precisa amolar alguma ferramenta por aqui? Facas, tesouras, alicates...
- Ah, não, não, te agradeço mas não preciso. Quando necessito afiar minhas lâminas eu mesmo o faço em minha pedra ou peço para meu filho levar ali na esquina, onde tem um senhor com um destes amoladores que acelera com o pé... hum, desculpe-me a intromissão mas, o senhor é novo na cidade? Vais montar um negócio como o senhor da esquina?
- Ah, não, eu carrego comigo meu próprio material de amolar e presto este serviço à domicílio.

O homem tirou da bolsa seu material de trabalho, construído de forma artesanal, com algumas peças de ferro e madeira e o comerciante ficou muito interessado em como funcionava. O homem rapidamente montou o equipamento e demonstrou o funcionamento de sua máquina de amolar de fabricação própria. Girava a manivela de madeira, que por sua vez fazia girar o áspero rebolo, tudo com imensa facilidade e sem muito esforço, algo nunca visto naquele tempo, daquela forma e de maneira tão compacta.

O comerciante quis testar o amolador e tirou uma faca debaixo do balcão. O homem posicionou a lâmina da faca na borda do rebolo e o fez girar. Rapidamente surgiram faíscas e após alguns poucos segundos a faca estava perfeitamente afiada e pronta para uso.

- Impressionante! É uma bela invenção, muito interessante! Quanto te devo meu senhor? - perguntou o comerciante.
- Bem, o que tu viu foi apenas uma demonstração, tu não precisa me pagar - respondeu o homem.
- Faço questão, tua invenção funcionou muito bem e pagarei de bom grado pelo teu serviço. - O comerciante devolveu ao homem as moedas que ele havia entregado pelo desjejum.
- Então está feito, mas deixo-lhe de volta estas moedas para que esteja pago um próximo desjejum, caso alguém com fome venha lhe pedir por comida e não tenha como lhe pagar. - O homem empurrou as moedas de volta ao comerciante, deslizando-as pelo balcão.
O comerciante limpou a garganta e com um certo pesar em seu semblante disse ao homem:
- Tens um bom coração senhor. Deveria aceitar o dinheiro. Nesta região vai ser difícil vender teus serviços. Aqui é um vilarejo com pessoas de baixa renda. O dinheiro de todos é muito bem contado e costuma faltar a muitos.
- Pois bem, mais um motivo para que tu fique com o dinheiro e dê o desjejum a quem tem fome.

Dito isso o homem desmontou todo o seu equipamento, se levantou, agradeceu o café e a companhia do amigo comerciante e, antes de sair, perguntou-lhe onde ficava a loja do senhor que amolava facas com a tal máquina tradicional. Depois, se despediu com um aceno e, com um sorriso no rosto, saiu porta afora. O comerciante se sentiu maravilhado com o coração bondoso do homem e desejou sortes e bênçãos em sua passagem à cidade.

Chegando na loja do senhor amolador, o homem notou as pequenas dimensões do local e havia muita poeira no chão e no único balcão de madeira que se dobrava em torno da loja.

- Em que posso lhe ajudar? - perguntou o senhor. Era um velho homem magro, rosto duro e com cabelos brancos ralos. A barba por fazer o deixava com uma expressão cansada.
- Bom dia! Soube que o senhor trabalha amolando ferramentas.
- Sim... e também vendo facas, alicates e cortadores. Além disso conserto sombrinhas e guarda-chuvas. O que o senhor precisa?
- Gostaria que o senhor avaliasse isto.

O homem montou novamente todo seu equipamento, peça a peça, enquanto o senhor o olhava com olhos duros, fixos e atentos.

- O senhor têm uma faca cega de corte? - perguntou o homem.
O senhor entregou ao homem uma pequena e antiga faca há muito tempo sem corte, para usar na demonstração. O homem apanhou a faca segurando em seu cabo de madeira, posicionou-a na superfície áspera do rebolo e rapidamente o girou, obtendo após uma pequena fração de tempo o fio de corte perfeito da ferramenta. O senhor apanhou a faca e examinou como tinha ficado o gume.
- O segredo está na maneira como é montado o rebolo, com um sistema interno que eu mesmo criei, onde a força é triplicada a cada girada na manivela. - Disse-lhe o homem.
- Hum, de fato é uma bela invenção. O que o senhor pretende com ela?
- Tu conseguiria aproveitar este equipamento em teus serviços ou mesmo vendê-lo a alguma pessoa como um amolador permanente e portátil?
- Com certeza, mas infelizmente não tenho como comprá-lo pois não tenho dinheiro em caixa pra isso. - respondeu-lhe o senhor.
- Pois bem - respondeu o homem por fim - Eu gostaria de lhe presentear com este equipamento, você gostaria de ficar com ele?
- E por que motivo você o me daria? - Perguntou o senhor do estabelecimento, com um semblante de desconfiança e expressão duvidosa.
- Porque simplesmente não preciso mais dele ou de qualquer coisa material. E sei que dando-lhe o equipamento, ajudarei a ti e teus negócios, o que gostaria de fazer de bom grado e de coração.
- Eu não entendo, você não me conhece... - o senhor estava muito confuso e ressabiado.
O homem pousou a mão direita no ombro do senhor do estabelecimento, o qual se afastou instintivamente, mas não o suficiente para que pudesse eliminar totalmente o contato físico. Em seguida o homem disse, com um sorriso no rosto:
- Não se preocupe com isso, sei que a vida por aqui deve estar difícil, embora eu  não tenha a menor ideia de quanto dinheiro tu tens, só vou deixar este equipamento aqui contigo e se tu quiser te mostro como funciona. E não precisa me dar nada em troca.

E o homem ensinou ao senhor como operar o amolador. E o homem se despediu sorrindo, dizendo que tomaria novamente o rumo da estrada com sua bolsa e suas botas surradas.

E o senhor do estabelecimento não pôde compreender o significado de alguém desconhecido dar-lhe de presente uma bela invenção, ensinar seu funcionamento e não cobrar absolutamente nada por isso. Há coisas no coração de um homem que são impossíveis de se conceber aos olhos daqueles que costumam ver apenas a maneira como a vida deve ser vivida.

III

Após caminhar por três dias e três noites, o homem chegou ao seu destino na manhã do quarto dia.

O calor estava ainda mais forte, seus cabelos já compridos e sua barba cerrada davam a sensação de mais calor ainda, mas seu chapéu o ajudava e ele tinha muita paciência e mente serena para suportar os desafios de uma solitária viagem a pé.

Avistou a antiga casa de madeira na baixada da estrada, com um gramado bem aparado de frente e sem cercas de proteção. O homem se aproximou e bateu na porta, uma porta azul e bem pintada apesar da idade de construção da casa.

Sua esposa abriu a porta e o abraçou com lágrimas de saudade e felicidade. Sua pequena filha também fez o mesmo, agarrando as pernas empoeiradas do pai e imediatamente saiu correndo para mostrar suas construções de casas de bonecas e tudo o que ela tinha feito enquanto o pai estava fora. Na casa também se encontravam o sogro e o casal de cunhados - era dia de folga, o comércio estava parado e sua casa estava totalmente preenchida pela família.

O sogro questionou o genro, disse que havia demorado demais a retornar e perguntou tudo o que tinha se passado, querendo obter todas as informações nos mínimos detalhes. O sogro não gostava nem um pouco da ocupação do genro, muito menos da forma desapegada como ele tratava as coisas, sendo o sogro um acumulador de coisas e dinheiro. E pela ideia falsa de que sempre faltava dinheiro, a família contracenava bons episódios de discussões, brigas e eternas reclamações.

Na visão do homem era tudo absolutamente normal, ele sempre conversava amistosamente com todos, costumava rapidamente acalmar os ânimos do sogro, não se envolvia nas brigas dos cunhados e preferia partilhar de seus pensamentos com sua esposa, que sempre de maneira muito serena o apoiava e se orgulhava de sua ocupação.

Após apaziguar o sogro, as conversas com a família seguiram animadas e, após muita prosa, o homem tirou da bolsa todo o dinheiro de seu trabalho e deixou com sua esposa para manter as contas e suprimentos da casa todos em ordem.

Já era final da tarde, o homem estava sentado com sua esposa na varanda de sua casa, fumando seu cigarro de palha, tomando um café fraco e conversando tranquilamente sobre a vida. Estava verdadeiramente feliz de poder estar em casa, além do que ainda teria um bom tempo para repousar, até construir um novo amolador e sair caminhando novamente para oferecer os seus serviços, vivenciar sua natureza, sua ações virtuosas e seu desapego -  até que por fim se desfizesse do amolador beneficiando a alguém e depois voltasse para casa para começar tudo de novo.

A filha sentou-se ao lado do pai e, neste mesmo momento, um pequeno cão marrom de pêlo pardo surgiu vindo ao encontro deles, deitando-se próximo aos pés da filha do homem.

- Ai que bonitinho! De onde veio este cachorro papai? Deve ter fugido de algum lugar!

O homem sorriu ao ver o cão Mirradinho, pousou sua mão no ombro da filha, que virou o rosto pra ele, também com um sorriso.

- Venha cá minha filha, finalmente chegou a hora de lhe ensinar a construir um novo amolador.

O tesouro do corpo é mais valioso do que aquele guardado no cofre, e o tesouro acumulado no coração é mais valioso do que o tesouro do corpo. Portanto, dedique-se em acumular o tesouro do coração.
(Nitiren Daishonin).

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Carta de Chris McCandless para Ron Franz

"Essa é para refletir... No filme Into The Wild, Chris McCandless escreve uma carta para o velho Franz, acomodado em sua vida de tarefas diárias dentro de sua casa, sempre preso aos velhos costumes! Esta mensagem desperta em Franz algo além de seu conhecimento, além da verdade que ele tinha como sendo absoluta! Muitos blogs já publicaram este texto, e é algo tão maravilhoso que não poderia deixar de compartilhar neste blog! =)"



“Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.
Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito do homem que um futuro seguro.
A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências [...]
Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo ou em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de vida não-convencional.
O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está simplesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é com você mesmo [...]
Espero que na próxima vez que eu o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça. Você ficará muito, muito contente por ter feito.”