sexta-feira, 26 de abril de 2013

Vidas Programadas


A Programação

Com certeza há milhares de posts em blogs de internet, artigos de revistas e livros que fazem menção ao modelo pré-fabricado ou modelo automático de condução de vida das pessoas. Basicamente todos nós já ouvimos falar sobre como é o ciclo nascer, estudar, se formar, trabalhar, casar, gerar filhos, envelhecermos bem, termos netos e repassarmos todo este ciclo para as demais gerações, que irão repetir este mesmo fluxo, talvez com algumas variações.

O fluxo em si talvez não seja questionável o suficiente a ponto de gerar um incômodo nas pessoas, mas, quando começamos a nos aprofundar nos detalhes de cada uma das etapas, aí sim, iniciam-se os questionamentos e "estalos morais" que nos fazem pensar em nossas vidas e nas pessoas do mundo todo.

Hoje me peguei pensando sobre o motivo pelo qual mesmo com o questionamento das pessoas sobre o modelo atual de vivência (ou sobrevivência, as coisas estão difíceis para muitos..), me parece que nada ou quase nada muda em relação à vida destas pessoas (eu inclusive!).

Todos gostam de falar que algo no mundo está errado, que trabalhamos demais e descansamos de menos, que não sobra dinheiro para pagar as contas, que estamos morrendo em filas de hospitais e que não temos a quem reclamar sobre tudo isso (situações políticas à parte) e muito mais. A maioria espera uma melhor oportunidade profissional ou mesmo um ganho capital fruto de jogos de azar, ou herança, ou golpe de sorte para que as coisas enfim possam melhorar, como se o dinheiro resolvesse todos os problemas do mundo.

Todos querem mudar o mundo mas poucos conseguem mudar a si mesmos. - Liev Tolstói.

Minha opinião pessoal é que este conjunto de reclamações e também de maneiras de sanar as reclamações é algo que já estava programado há muito tempo, desde muitas gerações passadas, sofrendo apenas adaptações contemporâneas para o nosso presente. Eu já havia comentado aqui no blog em outro post sobre o modelo de nossa sociedade atual (O Novo Tempo para o Simples) e creio que este modelo que domina o mundo é a cartilha ditadora de regras do que devemos fazer e do que todo mundo está fazendo para seguir adiante na vida.

Pensando em um exemplo, um dia todo o jovem é submetido à pressão de ter que escolher uma profissão e isso têm que ser feito bem depressa pois a concorrência é enorme e pessoas jovens, experientes e bem decididas são mais favorecidas no mercado de trabalho. Por mais que os pais ou amigos influentes tenham uma mente mais aberta, uma hora o jovem será confrontado por pessoas que têm uma base mais firme e pés mais profundamente enterrados sobre o modelo-sociedade.

Entre acertos e erros, sem realizar uma medição de equilíbrio entre um e outro, este jovem pode enfim encontrar a profissão correta. Pausa aqui para uma informação:

Profissão -  é um trabalho ou atividade especializada dentro da sociedade, geralmente exercida por um profissional - Fonte: Wikipedia

Após uma intensa luta para se formar, este mesmo jovem concluiu uma de suas primeiras missões obrigatórias da vida. Aliás, falando de profissões, aquelas que geram trabalhos mais rentáveis são as melhores e mais bem vistas, sob ponto de vista da nossa amiga sociedade, especialmente sob julgamentos de familiares, namorada, etc. Já o cachorro do jovem provavelmente não está nem aí se ele se formou em Medicina ou Artes Plásticas, ou mesmo se ele é um Vagabundo - o cachorro o ama simplesmente porque o ama e porque o dono é o que é, o que torna um cachorro mais verdadeiro do que qualquer pessoa.

Eu te amo!
Enfim...

O jovem (talvez já não tão jovem a esta altura) pode ou não ter sucesso em sua profissão. Pode ser que depois de 5 anos de formação ele veja que na verdade gostaria de mudar da medicina para música, que estava enganado sobre o que gostava e do que passou a gostar. Isso é um problema? Bom, as pessoas mudam, certo? No entanto esta mudança irá gerar algum tipo de impacto. Sempre gera algum tipo de impacto.

Muitos de nós acabamos seguindo com a vida, continuando a exercer de forma infeliz a profissão escolhida simplesmente porque já temos tantas contas, e responsabilidades, e família e bens materiais que não podemos nos dar esse "luxo" de mudar completamente de ocupação profissional. E como consequência disso, realizamos trabalhos de maneira forçada, de maneira automática, com mau humor, stress, e menos, muito menos vida!

Essa maneira de conduzir as coisas de uma forma automática, muito mais por obrigação do que por liberdade, não se aplica apenas à área profissional mas em todas as áreas de nossa vida, como relacionamentos, amizades, família, saúde, entre outras. É claro e notável dizer que temos o poder da escolha, de trilhar um ou outro caminho e que somos e devemos ser responsáveis por nossas escolhas. Justo. O que eu gostaria de expressar com esta publicação é que o modelo nos condiciona a tomarmos algumas escolhas como ditas "certas" e "necessárias" porque todo mundo diz que é assim e porque o cidadão possui uma melhor aceitação na sociedade se tiver uma profissão, uma religião, ao se casar, ao gerar filhos, se tiver dinheiro, posse e bens materiais, se for heterossexual, se conseguir envelhecer com dignidade e deixar, além de heranças, bons frutos.
E forçar o indivíduo a ser feliz sendo obrigado a ter este padrão automático gera questionamentos. De fato é bom que tenhamos as escolhas, pois também podemos escolher o que deste modelo nos fará parte ou não.

E por que estou dizendo tudo isso? Para tentar obter uma conclusão de que no modelo da sociedade atual as chances de se "dar bem" são MAIORES quando se segue os moldes de sua cartilha de programação, de sua vida programada!

Pitty e a pane no sistema: Deixando de lado qualquer crítica à sua música, ela também já pensou na vida programada das pessoas quando escreveu sua canção.

O jovem tem mais chances de se dar bem caso ele saiba exatamente o que quer. Ele se dará bem quando adulto, em um casamento, ou mesmo solteiro se souber exatamente o que quer. Isso vale também para suas decisões profissionais e políticas, ou qualquer outro assunto! A programação funciona muito bem para aqueles que estão bem inseridos no modelo.


Voltando ao conjunto da obra, da maioria esmagadora: Levantamos de nossa cama para trabalhar (sempre mais cedo do que gostaríamos), trabalhamos 8 horas por dia (com muitas variações para mais e poucas para menos) porque temos que fazer isso para pagar nossas contas e obtermos o direito de consumir, aproveitamos as noites de uma ou outra maneira e aproveitamos os dias apenas nas férias e final de semana e assim vamos levando um ritmo de vida de seguimento de regras de uma cartilha que todos seguem, e então consideramos que todos também devem seguir! Somos escravos do sistema, nossa "liberdade" está limitada dentro de um conjunto de regras! Escolha uma profissão mas não seja livre o suficiente para optar por não ter uma! Escolha um trabalho, mas te lembro que são poucos os que você pode trabalhar menos que 8 horas/dia pois sempre tem alguém que se submete a trabalhar MAIS por MENOS e para uma empresa te substituir por este cidadão é extremamente simples! Escolha comprar um carro, mas te alerto, a maioria paga caro por isso e então você também têm que pagar porque um carro custa isso mesmo, é o preço de mercado, é o preço para todos. Mas dá pra fazer uma opção de pagamento em 5 anos! Pausa aqui!

Já reparou que um vendedor de automóveis sempre fala em pagamento em 48 ou 60 parcelas mas nunca fala em 4 ou 5 anos?

Ou seja, faça suas escolhas sem jamais fugir da programação automática! Este é o funcionamento da programação.

O Questionamento

Em um determinado momento alguns questionam suas vidas automáticas e querem sair dessa rotina, desse modelo. Tais pessoas são consideradas as malucas do mundo, e possuem idéias insanas que são compartilhadas apenas com uma minoria. Alguns mudam de profissão, outros conhecem uma nova pessoa que muda a sua vida, outros vão morar no meio do mato, outros se dedicam a uma vida espiritual mais abundante, entre muitos exemplos de pessoas que mudaram tudo em suas vidas em prol de uma felicidade mais livre, mais verdadeira.


Thoreau resolveu passar a viver sozinho no meio do mato para fugir da sociedade e provar que se pode viver muito bem com muito pouco.

O que eu realmente acredito ser um caminho para a liberdade de escolhas felizes em uma vida verdadeira é simplificar as coisas, retornando o estado do homem à natureza, ao ser homo sapiens que sempre foi integrado ao planeta, ou seja, retomamos nossa condição original.

Sim, radical assim! Deixar os assuntos de gente grande para quem quer ser grande! Desacelerar o ritmo, ignorando as cobranças vazias feitas pela sociedade! Criando uma consciência moral de onde e de que maneira as coisas acontecem, de como a comida vêm parar em minha mesa, de como estou sendo abastecido neste mundo e de quanto meu esforço realmente vale para que eu tenha todas estas coisas.

Se começarmos a pensar olhando pelo lado de que estamos aqui vivendo uma única vez e que temos a sorte de estarmos vivos para fazer a diferença, passaremos a questionar de que maneira estamos conduzindo nossas vidas e o que podemos fazer para viver melhor e com mais qualidade. Mas isso é minha opinião pessoal, minha sorte é ter como me expor em um blog para explodir com essa idéia! =)

É claro, pessoalmente eu reconheço que faço parte do sistema e me encontro dentro dos moldes programados. Fato é que estou rabiscando as alternativas para continuar saindo dessa para começar a viver de forma mais verdadeira. Bom é que filosofar sempre é possível, independente do "enrosco" de nossas vidas!

E se penso que podemos retroceder com este pensamento? No modelo atual sim, mas no desenvolvimento humano... quem sabe? E quem sabe assim nós possamos dar alguma esperança a este planeta, ao futuro de nossos filhos como pessoas, à vida e ao amor ao próximo. Pois se simplificamos, não precisamos e se não precisamos não nos matamos! Nem a nós, nem aos próximos e nem ao planeta.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Contos - Nostalgia II



Entrei naquele bar exatamente às 02:00 da matina, sem muito dinheiro no bolso mas com uma incrível e insana necessidade de uma dose de Jack Daniels ou qualquer outro uísque barato, não importava! Buscava apenas o efeito abrasador do álcool queimando minha garganta e me concedendo a deliciosa e macia sensação de entorpecência lentamente subindo ao meu cérebro.

Tudo foi absolutamente mais perfeito do que eu esperava, deveras, no momento em que eu entrei no escuro e abafado ambiente, me sentei no balcão e uma banda começou a tocar os primeiros acordes de uma nova canção. Ahhh, Rhythm and Blues, esse tipo de som ainda está vivo nestes pequenos bueiros e submundos boêmios das grandes metrópolis.


Tirei minha jaqueta, colocando-a sobre o balcão e pedi minha dose de Jack sem saber quanto custava. Puro, estilo Cowboy, foda-se com qualquer "gelinho" que possa estragar o meu barato. Olhei em volta, poucas mesas com pessoas embora o local não estavesse de todo vazio. No balcão só eu e mais um casal afastado conversando de um jeito que era impossível não imaginar que logo sairiam dali para terminarem a conversa de um modo mais reservado.


Lembrei-me dela, Gabrielle... qualquer visão de casais e momentos felizes ou de sentimentos sexualmente palpáveis e perceptíveis no ar me fazia lembrar dela. Seu sorriso era enigmático e complexo, seu olhar direto era deliciosamente fulminante e eu me perdia nas curvas de seu corpo como alguém que se perde em uma estrada sem sinalização.


Gabrielle seria apenas uma aventura, se não fosse o seu jeito de me prender apenas sendo ela mesma, jeitos, conversas e olhares impossíveis de se esquecer. E eu a perdi tão rapidamente como a ganhei, mas de uma forma muito mais estúpida. Minhas loucuras insanas de possessão de sentimentos, de ciúme desgovernado, de querer ser o centro do universo de minha amada... a paixão quando é muito forte torna-se perigosa, o duro foi aprender isso depois da consumação de meus erros...


Gabrielle não gostava de bares mas era uma amante de bons restaurantes, de simples programas de casal como ver o por do sol de cima de uma colina ou dar um belo banho de mangueira no cachorrro. Uma simplicidade complexa de entender, justamente porque era simples demais.


Ela me falava sobre as preocupações da vida como sendo apenas bolhas de realidade, que damos importância a muitas coisas sem importância e que deveríamos ser nós mesmos a todo momento. Além disso era muito, muito segura com todos os tipos de assuntos e situações. E minha insegurança era imediatamente proporcional a segurança de Gabrielle. Ela iria me deixar de qualquer jeito e eu jamais teria condições de continuar um relacionamento com ela porque Gabrielle era muito melhor do que eu, muito mais à frente ideologicamente, moralmente e sentimentalmente.


A banda fez uma pausa, palmas e assobios de aprovação. A atmosfera era densa e relaxante. O som da banda foi substituído por uma música ambiente gravada. Novamente Blues, Willie Dixon. Sim, reconheço sua voz e em minha memória vibram-se os sentimentos nostálgicos.

E aqui estou eu, copo vazio, ritmo lento de uma música tão espetacular que quase esbocei um sorriso. Afinal, dos sentimentos tristes saem as melhores composições, os sucessos imortais, as melhores partes da criação de um artista!

Outros Capítulos:
Nostalgia 
Nostalgia III - Fim...