Texto escrito em 30/08/2012 em meu livro de pensamentos
Os pequenos gestos, algo como segurar um fruto
Sentindo sua textura, seu aroma e sabor
Posso sentir a simplicidade das coisas
Diminuo a complexidade da vida
E damos mais valor a situações que julgamos menos importantes
Não raro o transpor de uma fagulha de fogo
Tampouco adjetivar as posses
Sendo que o pouco muito agrada ao coração!
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Contos - Esporádico Amor
"Sem dúvida eu queria muito escrever um conto de amor e jamais havia escrito algo com este tipo de tema. E sim, tive inspirações pessoais e também literárias e musicais para escrever Esporádico Amor. É incrível o prazer de poder ao menos tentar transmitir sentimentos!" Daniel Vitório.
Ele - César
César trabalhava como sorveteiro em um parque público, desses comuns em que as pessoas costumam ir para caminhar, praticar uma corrida, ler debaixo de uma árvore ou levar às crianças para um momento saudável de diversão ao ar livre.
Era jovem, idade de vinte e poucos anos, alto e magro como um jogador de basquete em fase escolar, tinha postura e desenvoltura, embora fosse considerado um desses "caras normais", um tanto quanto normal demais. Agarrou a oportunidade de ser um afiliado à maior rede de sorveteria do país. Precisava de grana, morava com a mãe ajudando-a a pagar as contas e manter a casa. Seu pai havia saído de casa quando ele tinha 11 anos e ele não tinha irmãos.
Diariamente estava com seu carrinho de sorvetes em frente à praça principal do parque, acompanhando o lento movimento de fregueses das tardes. O trabalho era tranquilo, a rentabilidade moderada.
Foi em uma destas tardes, mais precisamente em uma tarde de segunda-feira que ele notou a existência da maior obra-prima da natureza, aquela em que pela primeira vez em sua vida fez seu coração acelerar, reduzindo sua visão apenas às margens de um centro ávido de imagem, brilhante e colorido, onde todo o resto do universo fora deste centro se encontrava imediatamente convertido a um mundo insólito, triste e preto e branco! Ela passou em sua frente e imediatamente chamou sua atenção.
Era como se naquele instante, toda a concentração de vida estivesse nela e todo o resto fosse um espaço escuro, infinito, sem importância... Ela era a vida, a paixão, a beleza impossível de ser concebida por olhos humanamente simples como o dele.
César ficou atônito, não conseguia tirar os olhos dela, jamais teve uma sensação de mistura de emoções deste tipo!
Ela passou por ele em uma tradicional caminhada, estava utilizando um simples vestido de verão amarelo e esvoaçante, cabelos castanhos claros semi-presos com algum apetrecho maravilhoso mas não identificado por seu baixíssimo conhecimento de... homem!
Ela calçava um par de sandálias de salto baixo, aparentemente confortável, o que a deixava com uma silhueta simples e magnífica.
Haviam delicadas pulseiras em ambos os pulsos de forma a se misturar o jeito menina com o jeito de mulher! Ela não era muito alta mas tinha boa estatura e postura. Sob o ponto de vista de César ela era perfeita!
Ela não deu qualquer tipo de atenção à César, passou pelo carrinho de sorvete como se ele não existisse, como se ele estivesse em um mundo diferente do dela. Não por subjulgar um sorveteiro com seu modesto carrinho de sorvetes mas porque, quando ela se propunha a caminhar, se desligava de tudo ao seu redor. Era um tranquilo e descompromissado passeio, de um certo jeito que possibilita longos e profundos pensamentos que ofuscam as imagens ao redor, algo puro e natural.
César olhava fixamente pra ela como se estivesse passando um filme em câmera lenta, quando subitamente foi chamado de volta à realidade, trazido rapidamente ao presente em velocidade normal de exibição ao ser puxado pelo uniforme, por um garoto:
- Tio, ô tioooo! Tem sorvete de brigadeiro?
César repentinamente acordou de seu sonho e virou seu rosto em direção à voz.
- Sim, opa, claro! - respondeu piscando de forma acelerada e voltando as atenções para o pequeno menino.
Pegou o sorvete no fundo do carrinho e entregou ao garoto, que por sua vez o pagou em seu valor exato.
Após o momento de distração, procurou visualmente pela garota e a encontrou distante, apenas um pequeno ponto amarelo que havia se afastado e seguia pela trilha de areia batida. Ela caminhava pelo caminho circular do parque, o que levava a crer que iria voltar a passar em frente à César. Esta possibilidade o deixou muito animado, louco de vontade de poder apreciar novamente a visão dela, e desta vez talvez poderia apreciar sua forma mais detalhada!
Isto de fato aconteceu mas a espera deste momento pareceu à César uma eternidade! A segunda vez que olhou pra ela foi igualmente incrível e mais incrível ainda foi a situação que ocorreu em seguida pois ela se virou para o carrinho de sorvetes e caminhou em sua direção.
Tudo aconteceu muito rápido, a aproximação dela foi algo inesperado e o paralisou de imediato. Ela observava o catálogo de sorvetes de forma descompromissada, com um leve sorriso no rosto e semblante de dúvida sobre qual sabor ela gostaria de apreciar.
"Meu Deus, ela é incrivelmente linda!" - pensou César.
- Moço, desculpe, qual é o seu nome? - Ela perguntou.
"Meu nome? O que? Por que ela quer saber meu nome?"
- César, me chamo César - respondeu e imediatamente sentiu raiva de si mesmo por ter dito seu próprio nome duas vezes!
- César, eu queria um desse sorvete de frutas, huuum, pode ser esse de abacaxi mesmo.
A maneira como ela disse aquilo, como ela fez o pedido, foi algo como a sensação de respirar uma brisa suave que levemente disparou seu coração e de forma abrasadora alegrou todo o seu ser. E que educação era aquela? "Perguntou o meu nome... e mais, pronunciou o meu nome!"
César sorriu sem nada dizer e abaixou até o fundo do carrinho de sorvetes para pegar o de sabor abacaxi. Descobriu que tinha todos os sabores MENOS o de abacaxi.
- Olha moça, vou ficar devendo, de abacaxi eu não tenho mais!
Só depois de dizer isso que lembrou-se de ser igualmente educado: - Me desculpe, te chamei de moça mas qual é o seu nome?
- Stephanie. Bom, então pode ser sorvete de limão mesmo. - Deu um gracioso sorriso que terminou por derreter a César por completo.
“O que era isso? Pegadinha? Que maravilha era essa garota-mulher perfeita até quando fala?”
Entregou o sorvete de palito de limão a ela e seu gesto fez com que seus dedos tocassem suavemente os dedos dela, roçando-os. Foi algo simples mas fantástico, ali naquele momento ele sentiu que queria tocá-la mais, sentí-la mais, não sabia bem o porque mas era o que desejava.
Ela se afastou sorrindo dando alguns passos para trás e disse:
- Da próxima vez veja se traga o meu sorvete de abacaxi hein!
- Claro, jamais vou te deixar sem este sorvete de novo!
Ela sorriu, acenou com a mão e se foi. Entre suspiros ele a seguiu com o olhar por um tempo... e percebeu que ela não havia pagado pelo sorvete. Ele não sabia se corria atrás dela para cobrar-lhe o que devia unicamente como pretexto de vê-la novamente ou se deixava este assunto pra lá. Afinal, era um valor muito baixo comparado à mistura de sensações que teve por ela. Optou por não fazer nada.
César sentou e ficou entre devaneios, pensativo. Assim o dia se encerrou e não tornou a vê-la.
Os dias se passaram e César sempre tinha a expectativa de poder reencontrá-la ("Stephanie..." - o nome não saía de sua cabeça), aquela garota de vestido amarelo que se apossou de sua mente e fixou território sem pedir licença. Precisava vê-la, queria muito poder ter este prazer mais uma única vez.
Foi no momento em que ele havia começado a perder as esperanças em vê-la que ela reapareceu no parque, com aquele mesmo caminhar desinibido e despreocupado.
Olhou para César, acenou de longe com o gracioso sorriso estampado. Se vestia de forma esportiva, de forma a aproveitar a tarde de sol caminhando pelo parque.
César acenou de volta. Houve a mesma mistura de sentimentos quando a viu pela primeira vez. Stephanie caminhou na direção de César, mais uma vez rápido demais para que ele pudesse formar alguma opinião sobre o que estava acontecendo.
- César, eu esqueci de lhe pagar o sorvete da última vez, me desculpe, estava totalmente distraída. Vou aproveitar e pegar outro agora. - Disse isso e começou a olhar para o catálogo.
"Ela lembrou do meu nome!"
César sentiu que precisava interagir com Stephanie, não apenas como um mero fornecedor. Coçou a cabeça, sorriu para ela.
- Como você se lembrou de meu nome Stephanie?
- E como você se lembrou do meu?
- Perguntei primeiro. - Retrucou César. Ambos riram. Algum vínculo pareceu começar ali e César já estava totalmente dominado sentimentalmente por ela.
- Vai me perdoar por ter esquecido de te pagar?
- Já perdoei. Só porque é você! - Aquilo foi a deixa para iniciar um flerte, sentimentalmente minúsculo comparado com a vontade que estava de conversar com ela uma semana inteira sem parar.
- Então não vou pagar esse também! - Riram novamente. E este foi o início de muitas outras conversas que se seguiriam entre eles.
Daí em diante se encontravam praticamente todos os dias no parque, e também combinaram um barzinho em um local próximo à ambos. César lhe contou sobre sua vida simples, sua infância, de como teve uma vida difícil, das remotas oportunidades e o motivo pelo qual uma garota linda como Stephanie costumava se encontrar com um cara de baixa renda e sem muito estudo, muito embora César se dedicasse muito ao seu gosto pela literatura.
- Não posso ter um amigo simples, é isso? Acha que sou complexa? - Viviam sorrindo um para o outro. César sempre pensava no fato de que ainda eram somente amigos e ele queria muito que não fosse MAIS somente isso.
Ele gostava de fazer citações sobre seus autores favoritos, citava frases de Fernando Pessoa e seus amores, Eduardo Galeano e suas loucuras, ensaios de Machado de Assis e inclusive os cânticos bíblicos dos amores de Salomão, embora não fosse cristão. O foco eram as belas palavras, e ele ganhava liberdade de condução do assunto quando via o olhar dela brilhar e seu sorriso se alargar.
Foi em uma mesma tarde de segunda-feira, durante seu trabalho no parque que Stephanie foi de encontro a César. Ele já sorria de forma familiar ao vê-la chegar, os olhos adocicados pela presença dela. Mas o rosto de Stephanie trazia uma expressão triste, um sorriso disfarçado, olhar brilhante, choroso. Desta vez tudo estava diferente, inclusive o caminhar dela, menos distraído, não tão leve.
Sem dizer absolutamente nada, Stephanie segurou o rosto de César com ambas as mãos e o beijou na boca, um beijo firme, quente, puxando César contra ela, uma explosão de sentimentos há muito tempo aguardada por ele.
César fechou os olhos e sentiu, além da boca de Stephanie, uma lágrima dela escorrer para seu rosto. Ele se afastou e ela também. Stephanie chorava, se afastou mais e com um pequeno soluço disse:
- Me desculpe César...
- Desculpe pelo que? Não estou entendendo! O que houve?
Stephanie se virou e começou a correr. César gritou para que Stephanie esperasse mas ela se foi sem olhar para trás. Ele ficou onde estava, atônito, sem entender nada e também responsável demais para abandonar seu carrinho de sorvetes para deleite dos oportunistas que somente existiam em sua mente.
Ela - Stephanie
Era formada em Letras e a revisão de suas traduções ficaria sob responsabilidade de seu antigo professor. Ela tinha ambições de também se tornar uma professora universitária e sentia que estava no caminho certo em começar trabalhos de assistência em tradução, de textos junto aos mestres professores.
Sua família havia se mudado para fora do país, oportunidade única de trabalho para seu pai, que arrastou juntamente sua mãe e sua irmã mais nova. Stephanie acabara decidindo por ficar, morava sozinha e tinha seus próprios sonhos e objetivos.
Como estava com o resto da tarde livre, resolveu dar uma volta no parque perto de sua casa, sem se dar ao trabalho de trocar de roupa. Achou seu vestido amarelo muito conveniente para sair e tinha que ser exatamente nesta hora, antes que desabasse no sofá de sua casa e adormecesse ao som de um famigerado filme do canal de televisão aberto.
No parque andava divagando, presa em devaneios, feliz pelo trabalho e pela vida, pensando quando poderia visitar novamente seus pais. Estava calor, pensou imediatamente em tomar um sorvete, deu a volta no restante do percurso do parque e retornou à entrada principal. Chegou até o jovem sorveteiro, perguntou-lhe o nome e pediu um sorvete de abacaxi.
Olhou para César e o achou atraente. Admirava caras altos e com feições simpáticas, se sentiu feliz por ter comprado um sorvete com ele. Só depois de ter ido embora do parque e entrado em sua casa é que se lembrou que não havia pago o sorvete.
"Bom, depois volto lá e pago o bonitinho, que cabeça a minha!" - riu sozinha pela sala.
No dia seguinte Stephanie recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que Thiago, um pupilo de seu pai que trabalhava há muito tempo com ele, havia se mudado para lá para trabalhar na mesma filial de seu pai. Sua mãe exaltava Thiago como sendo um ótimo profissional, parceiro de seu marido, muito educado e que Stephanie deveria, quem sabe, conhecê-lo melhor.
- Ah mãe, faz tempo que não vejo o Thiago, mas acho que não tem nada a ver. Bom, legal saber que ele está por perto de vocês e ajudando o pai. - Stephanie comentou, não muito interessada.
Os dias se passaram e Stephanie teve mais uma longa jornada de cansativos trabalhos de traduções de textos. Sabia que isso poderia lhe render um bom futuro mas estava cansada, talvez alguma outra vertente de ocupação poderia lhe dar mais tranquilidade em poder tomar conta de seus assuntos pessoais. Quando enfim terminou o trabalho, vestiu uma roupa esportiva e foi caminhar no parque.
Diante da entrada do parque se lembrou do simpático sorveteiro. Por sorte tinha dinheiro ali na hora e foi acertar sua conta atrasada. Lembrou o seu nome de imediato, mesmo porque havia tido uma primeira vez em que perguntara o nome de um sorveteiro, algo inédito em sua vida!
Stephanie pediu desculpas pelo atraso e ambos flertaram, rindo de pequenas coisas que tornava aquele momento simples e agradável de ser vivido.
A partir dali começava a se encontrar com César com uma certa frequência e ela gostava muito das conversas entre eles. Contou como seu trabalho era cansativo, como estava com saudades da família distante e iria visitá-los logo, inclusive contou sobre sua mãe estar feliz com a vinda do pupilo Thiago, o que gerou um certo ciúme em César, ciúme este que foi totalmente perceptível por ela.
Ele a escutava, costumava citava belos textos na hora certa, e ela amava o jeito que ele a olhava, simples e doce como ele era. Estava se apaixonando por César, embora soubesse que ele era um simples sorveteiro e mesmo com um papo agradável não tinha exatamente as características de um homem pelo qual imaginava um dia encontrar para ter um relacionamento duradouro. Ele era a simplicidade de que ela gostava, mas ela era sempre movida aos objetivos, o que desfocava o simples e impedia o possível momento em que eles pudessem ficar juntos.
Em um final de semana Stephanie pegou um avião e foi visitar os pais. Chegando lá percebeu como o trabalho de seu pai havia rendido bons frutos, sua família havia reformado a casa (uma surpresa de seus pais que não haviam contado a Stephanie), compraram um novo carro e sua irmã estava estudando em uma universidade de nome forte.
Mas havia um porém. Seu pai estava com a saúde debilitada, sua diabetes havia piorado e seu semblante era de um velho abatido e cansado. O trabalho o desgastara, no entanto tinha conseguido manter a família toda em boa situação financeira, o que era orgulho para sua mãe, que por sua vez parecia não ver o estado de declinação física do pai.
Stephanie se preocupou e alertou sua mãe para que cuidasse do pai e sua mãe afirmava que ele mesmo não se cuidava, e seu pai afirmava que estava tudo bem e incentivava Stephanie a morar com eles e assim o assunto não avançou para bons frutos.
No mesmo final de semana o pupilo Thiago apareceu na casa dos pais de Stephanie, eles conversaram muito em família e Stephanie soube que Thiago seria nomeado o sucessor do diretor da filial da empresa onde trabalhava ele e seu pai e isso encheu a todos de orgulho. E todos diziam como seria legal Thiago ter um status elevado, comprar uma bela casa na beira do lago, trocar de carro e ajudar o pai de Stephanie facilitando os trabalhos e gerando ainda mais conforto para toda a família.
Stephanie sorria mas se questionava por dentro. Notava as intenções de Thiago de querer ficar com ela, sua família tantando convencê-la de ir morar com eles persudadindo- a a tentar uma carreria no estrangeiro. Todos tinham planos para ela mas ela não tinha este mesmo plano desenhado em sua mente.
Veio pensando em sua família durante toda a viagem de volta. No domingo quando chegou em casa, ligou para os pais para avisar que havia chegado bem e sua mãe havia dito que o pai estava internado, algo que aconteceu subitamente quando ela tinha embarcado no avião, que provavelmente ele sofrera um AVC e que ela deveria voltar urgentemente. Stephanie se desesperou, procurou vôos no mesmo dia mas somente tinham vôos disponíveis para terça-feira pela manhã.
Stephanie pensou muito sobre tudo isso, em meio à choros de preocupação com seu pai. De que valeu a mudança de sua família para o estrangeiro? Ela deveria estar mais junto com eles e deveria ter esquecido por um momento de seus sonhos? Passado mais tempo com eles? Teria ela vivido as regalias deles enquanto seu pai e o mundo passava diante de seus olhos?
Ela sentiu que deveria abandonar suas convicções, deveria imediatamente passar um tempo com sua família, que deveria adiar um pouco seus sonhos e quem sabe, se não era isso mesmo, se realmente não daria certo juntar-se ao pupilo Thiago, casar-se com ele e morar em uma casa de campo com os filhos brincando no lago, perto de sua família...
Foi quando se lembrou de César. Aquele olhar simples, aquele rosto meigo de belo sorriso que sempre a fazia se sentir feliz, alguém simples e apaixonante e que por um momento ela havia se esquecido. Ela subitamente entendeu deveria esquecê-lo! Diante das circunstâncias César deveria apenas representar um momento agradável e que já estava no passado.
E Stephanie foi ao parque na tarde de segunda-feira, despedir-se de César com um beijo, suficientemente sem coragem de enfrentá-lo e de ter que explicar suas atitudes, uma atitude em que ela gostaria de garantir o monopólio da opinião dela mesma.
Juntos - O Final
César foi ao apartamento de Stephanie na mesma noite de segunda-feira. Ele se lembrava do caminho em um dos encontros com ela, mas era suficientemente educado para não se auto-convidar a ir até lá sem o conhecimento dela. Mas desta vez era diferente, ele precisava a todo custo falar com Stephanie e entender o que aconteceu.
O porteiro interfonou para Stephanie e ela respondeu que não gostaria de vê-lo. Para Stephanie era melhor assim. Mas logo se sentiu mal por ter uma atitude covarde dessas e por alguém que se apaixonara e o jogou fora em um momento pesssoal. Ela não atendeu o interfone, ao invés disso desceu para falar com César.
Ele estava discutindo com o porteiro e o mesmo ameaçava chamar a polícia caso continuasse insistindo para falar com Stephanie. Quando ele a viu correu até ela e a abraçou. Para Stephanie era o abraço que precisava para reconfortar o seu ser, ela chorou em seu ombro durante um bom período de tempo. Quando se afastou César começou a falar.
- O que aconteceu? Me diga, por favor...
E Stephanie disse, ali mesmo, com o porteiro testemunhando toda a conversa, ele mesmo não tendo coragem de mandar os dois se retirarem, e ambos não se importavam com a presença dele, era como um confessionário, um desabafo. E César ouviu tudo pacientemente. Quando Stephanie terminou, César a beijou e em seguida lhe disse:
- Vá, e faça o que tem que ser feito. Esperarei por você. Jamais amei alguém como eu te amo Stephanie! E citou por fim Fernando Pessoa:
"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
Stephanie sorriu, o mesmo largo e doce sorriso quando conversavam juntos. Se despediram ali mesmo, César desejando todas as melhoras à seu pai e indo embora em seguida.
Stephanie olhou para o porteiro, que disse:
- Nem chamou o rapaz para subir?
- Ele não aceitaria Senhor Pedro. Não sei como sei disso mas eu sei. Ele é diferente.
Algum tempo se passou.
Stephanie retornou após a melhora de seu pai, e após decisões e conversas consigo mesma, com a família e com César.
E César a esperou. Todos os dias em que ficaram separados eles se falaram por telefone, aumentando ainda mais a saudade e o vínculo entre eles.
Quando voltaram a se ver foi como uma explosão de sentimentos, indiscritível, insana e descontrolada!
Entre detalhes e pequenas porções de histórias, a vida que se seguiu daí por diante só pode ser compreendida por quem viveu um amor com intensidade de sentidos, com o sabor da exclusividade de sua metade, com um perfume único que pode ser recordado todos os dias mesmo na ausência fisica de seu amor, lembrado em todos os momentos vagos ou não, como uma incrível e inevitável força, impossível de se parar, como as ondas do mar que batem nas rochas, que acontece simplesmente todos os dias!
Ele - César
César trabalhava como sorveteiro em um parque público, desses comuns em que as pessoas costumam ir para caminhar, praticar uma corrida, ler debaixo de uma árvore ou levar às crianças para um momento saudável de diversão ao ar livre.
Era jovem, idade de vinte e poucos anos, alto e magro como um jogador de basquete em fase escolar, tinha postura e desenvoltura, embora fosse considerado um desses "caras normais", um tanto quanto normal demais. Agarrou a oportunidade de ser um afiliado à maior rede de sorveteria do país. Precisava de grana, morava com a mãe ajudando-a a pagar as contas e manter a casa. Seu pai havia saído de casa quando ele tinha 11 anos e ele não tinha irmãos.
Diariamente estava com seu carrinho de sorvetes em frente à praça principal do parque, acompanhando o lento movimento de fregueses das tardes. O trabalho era tranquilo, a rentabilidade moderada.
Foi em uma destas tardes, mais precisamente em uma tarde de segunda-feira que ele notou a existência da maior obra-prima da natureza, aquela em que pela primeira vez em sua vida fez seu coração acelerar, reduzindo sua visão apenas às margens de um centro ávido de imagem, brilhante e colorido, onde todo o resto do universo fora deste centro se encontrava imediatamente convertido a um mundo insólito, triste e preto e branco! Ela passou em sua frente e imediatamente chamou sua atenção.
Era como se naquele instante, toda a concentração de vida estivesse nela e todo o resto fosse um espaço escuro, infinito, sem importância... Ela era a vida, a paixão, a beleza impossível de ser concebida por olhos humanamente simples como o dele.
César ficou atônito, não conseguia tirar os olhos dela, jamais teve uma sensação de mistura de emoções deste tipo!
Ela passou por ele em uma tradicional caminhada, estava utilizando um simples vestido de verão amarelo e esvoaçante, cabelos castanhos claros semi-presos com algum apetrecho maravilhoso mas não identificado por seu baixíssimo conhecimento de... homem!
Ela calçava um par de sandálias de salto baixo, aparentemente confortável, o que a deixava com uma silhueta simples e magnífica.
Haviam delicadas pulseiras em ambos os pulsos de forma a se misturar o jeito menina com o jeito de mulher! Ela não era muito alta mas tinha boa estatura e postura. Sob o ponto de vista de César ela era perfeita!
Ela não deu qualquer tipo de atenção à César, passou pelo carrinho de sorvete como se ele não existisse, como se ele estivesse em um mundo diferente do dela. Não por subjulgar um sorveteiro com seu modesto carrinho de sorvetes mas porque, quando ela se propunha a caminhar, se desligava de tudo ao seu redor. Era um tranquilo e descompromissado passeio, de um certo jeito que possibilita longos e profundos pensamentos que ofuscam as imagens ao redor, algo puro e natural.
César olhava fixamente pra ela como se estivesse passando um filme em câmera lenta, quando subitamente foi chamado de volta à realidade, trazido rapidamente ao presente em velocidade normal de exibição ao ser puxado pelo uniforme, por um garoto:
- Tio, ô tioooo! Tem sorvete de brigadeiro?
César repentinamente acordou de seu sonho e virou seu rosto em direção à voz.
- Sim, opa, claro! - respondeu piscando de forma acelerada e voltando as atenções para o pequeno menino.
Pegou o sorvete no fundo do carrinho e entregou ao garoto, que por sua vez o pagou em seu valor exato.
Após o momento de distração, procurou visualmente pela garota e a encontrou distante, apenas um pequeno ponto amarelo que havia se afastado e seguia pela trilha de areia batida. Ela caminhava pelo caminho circular do parque, o que levava a crer que iria voltar a passar em frente à César. Esta possibilidade o deixou muito animado, louco de vontade de poder apreciar novamente a visão dela, e desta vez talvez poderia apreciar sua forma mais detalhada!
Isto de fato aconteceu mas a espera deste momento pareceu à César uma eternidade! A segunda vez que olhou pra ela foi igualmente incrível e mais incrível ainda foi a situação que ocorreu em seguida pois ela se virou para o carrinho de sorvetes e caminhou em sua direção.
Tudo aconteceu muito rápido, a aproximação dela foi algo inesperado e o paralisou de imediato. Ela observava o catálogo de sorvetes de forma descompromissada, com um leve sorriso no rosto e semblante de dúvida sobre qual sabor ela gostaria de apreciar.
"Meu Deus, ela é incrivelmente linda!" - pensou César.
- Moço, desculpe, qual é o seu nome? - Ela perguntou.
"Meu nome? O que? Por que ela quer saber meu nome?"
- César, me chamo César - respondeu e imediatamente sentiu raiva de si mesmo por ter dito seu próprio nome duas vezes!
- César, eu queria um desse sorvete de frutas, huuum, pode ser esse de abacaxi mesmo.
A maneira como ela disse aquilo, como ela fez o pedido, foi algo como a sensação de respirar uma brisa suave que levemente disparou seu coração e de forma abrasadora alegrou todo o seu ser. E que educação era aquela? "Perguntou o meu nome... e mais, pronunciou o meu nome!"
César sorriu sem nada dizer e abaixou até o fundo do carrinho de sorvetes para pegar o de sabor abacaxi. Descobriu que tinha todos os sabores MENOS o de abacaxi.
- Olha moça, vou ficar devendo, de abacaxi eu não tenho mais!
Só depois de dizer isso que lembrou-se de ser igualmente educado: - Me desculpe, te chamei de moça mas qual é o seu nome?
- Stephanie. Bom, então pode ser sorvete de limão mesmo. - Deu um gracioso sorriso que terminou por derreter a César por completo.
“O que era isso? Pegadinha? Que maravilha era essa garota-mulher perfeita até quando fala?”
Entregou o sorvete de palito de limão a ela e seu gesto fez com que seus dedos tocassem suavemente os dedos dela, roçando-os. Foi algo simples mas fantástico, ali naquele momento ele sentiu que queria tocá-la mais, sentí-la mais, não sabia bem o porque mas era o que desejava.
Ela se afastou sorrindo dando alguns passos para trás e disse:
- Da próxima vez veja se traga o meu sorvete de abacaxi hein!
- Claro, jamais vou te deixar sem este sorvete de novo!
Ela sorriu, acenou com a mão e se foi. Entre suspiros ele a seguiu com o olhar por um tempo... e percebeu que ela não havia pagado pelo sorvete. Ele não sabia se corria atrás dela para cobrar-lhe o que devia unicamente como pretexto de vê-la novamente ou se deixava este assunto pra lá. Afinal, era um valor muito baixo comparado à mistura de sensações que teve por ela. Optou por não fazer nada.
César sentou e ficou entre devaneios, pensativo. Assim o dia se encerrou e não tornou a vê-la.
Os dias se passaram e César sempre tinha a expectativa de poder reencontrá-la ("Stephanie..." - o nome não saía de sua cabeça), aquela garota de vestido amarelo que se apossou de sua mente e fixou território sem pedir licença. Precisava vê-la, queria muito poder ter este prazer mais uma única vez.
Foi no momento em que ele havia começado a perder as esperanças em vê-la que ela reapareceu no parque, com aquele mesmo caminhar desinibido e despreocupado.
Olhou para César, acenou de longe com o gracioso sorriso estampado. Se vestia de forma esportiva, de forma a aproveitar a tarde de sol caminhando pelo parque.
César acenou de volta. Houve a mesma mistura de sentimentos quando a viu pela primeira vez. Stephanie caminhou na direção de César, mais uma vez rápido demais para que ele pudesse formar alguma opinião sobre o que estava acontecendo.
- César, eu esqueci de lhe pagar o sorvete da última vez, me desculpe, estava totalmente distraída. Vou aproveitar e pegar outro agora. - Disse isso e começou a olhar para o catálogo.
"Ela lembrou do meu nome!"
César sentiu que precisava interagir com Stephanie, não apenas como um mero fornecedor. Coçou a cabeça, sorriu para ela.
- Como você se lembrou de meu nome Stephanie?
- E como você se lembrou do meu?
- Perguntei primeiro. - Retrucou César. Ambos riram. Algum vínculo pareceu começar ali e César já estava totalmente dominado sentimentalmente por ela.
- Vai me perdoar por ter esquecido de te pagar?
- Já perdoei. Só porque é você! - Aquilo foi a deixa para iniciar um flerte, sentimentalmente minúsculo comparado com a vontade que estava de conversar com ela uma semana inteira sem parar.
- Então não vou pagar esse também! - Riram novamente. E este foi o início de muitas outras conversas que se seguiriam entre eles.
Daí em diante se encontravam praticamente todos os dias no parque, e também combinaram um barzinho em um local próximo à ambos. César lhe contou sobre sua vida simples, sua infância, de como teve uma vida difícil, das remotas oportunidades e o motivo pelo qual uma garota linda como Stephanie costumava se encontrar com um cara de baixa renda e sem muito estudo, muito embora César se dedicasse muito ao seu gosto pela literatura.
- Não posso ter um amigo simples, é isso? Acha que sou complexa? - Viviam sorrindo um para o outro. César sempre pensava no fato de que ainda eram somente amigos e ele queria muito que não fosse MAIS somente isso.
Ele gostava de fazer citações sobre seus autores favoritos, citava frases de Fernando Pessoa e seus amores, Eduardo Galeano e suas loucuras, ensaios de Machado de Assis e inclusive os cânticos bíblicos dos amores de Salomão, embora não fosse cristão. O foco eram as belas palavras, e ele ganhava liberdade de condução do assunto quando via o olhar dela brilhar e seu sorriso se alargar.
Foi em uma mesma tarde de segunda-feira, durante seu trabalho no parque que Stephanie foi de encontro a César. Ele já sorria de forma familiar ao vê-la chegar, os olhos adocicados pela presença dela. Mas o rosto de Stephanie trazia uma expressão triste, um sorriso disfarçado, olhar brilhante, choroso. Desta vez tudo estava diferente, inclusive o caminhar dela, menos distraído, não tão leve.
Sem dizer absolutamente nada, Stephanie segurou o rosto de César com ambas as mãos e o beijou na boca, um beijo firme, quente, puxando César contra ela, uma explosão de sentimentos há muito tempo aguardada por ele.
César fechou os olhos e sentiu, além da boca de Stephanie, uma lágrima dela escorrer para seu rosto. Ele se afastou e ela também. Stephanie chorava, se afastou mais e com um pequeno soluço disse:
- Me desculpe César...
- Desculpe pelo que? Não estou entendendo! O que houve?
Stephanie se virou e começou a correr. César gritou para que Stephanie esperasse mas ela se foi sem olhar para trás. Ele ficou onde estava, atônito, sem entender nada e também responsável demais para abandonar seu carrinho de sorvetes para deleite dos oportunistas que somente existiam em sua mente.
Ela - Stephanie
Stephanie estava feliz por ter terminado seu trabalho mais cedo naquela tarde. Traduziu vários textos de um novo autor que era promessa de boas vendas no mercado nacional. Um trabalho desgastante mas que agora lhe daria um tempo de folga, até que lhe fossem enviados mais textos e novos capítulos a serem traduzidos.
Era formada em Letras e a revisão de suas traduções ficaria sob responsabilidade de seu antigo professor. Ela tinha ambições de também se tornar uma professora universitária e sentia que estava no caminho certo em começar trabalhos de assistência em tradução, de textos junto aos mestres professores.
Sua família havia se mudado para fora do país, oportunidade única de trabalho para seu pai, que arrastou juntamente sua mãe e sua irmã mais nova. Stephanie acabara decidindo por ficar, morava sozinha e tinha seus próprios sonhos e objetivos.
Como estava com o resto da tarde livre, resolveu dar uma volta no parque perto de sua casa, sem se dar ao trabalho de trocar de roupa. Achou seu vestido amarelo muito conveniente para sair e tinha que ser exatamente nesta hora, antes que desabasse no sofá de sua casa e adormecesse ao som de um famigerado filme do canal de televisão aberto.
No parque andava divagando, presa em devaneios, feliz pelo trabalho e pela vida, pensando quando poderia visitar novamente seus pais. Estava calor, pensou imediatamente em tomar um sorvete, deu a volta no restante do percurso do parque e retornou à entrada principal. Chegou até o jovem sorveteiro, perguntou-lhe o nome e pediu um sorvete de abacaxi.
Olhou para César e o achou atraente. Admirava caras altos e com feições simpáticas, se sentiu feliz por ter comprado um sorvete com ele. Só depois de ter ido embora do parque e entrado em sua casa é que se lembrou que não havia pago o sorvete.
"Bom, depois volto lá e pago o bonitinho, que cabeça a minha!" - riu sozinha pela sala.
No dia seguinte Stephanie recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que Thiago, um pupilo de seu pai que trabalhava há muito tempo com ele, havia se mudado para lá para trabalhar na mesma filial de seu pai. Sua mãe exaltava Thiago como sendo um ótimo profissional, parceiro de seu marido, muito educado e que Stephanie deveria, quem sabe, conhecê-lo melhor.
- Ah mãe, faz tempo que não vejo o Thiago, mas acho que não tem nada a ver. Bom, legal saber que ele está por perto de vocês e ajudando o pai. - Stephanie comentou, não muito interessada.
Os dias se passaram e Stephanie teve mais uma longa jornada de cansativos trabalhos de traduções de textos. Sabia que isso poderia lhe render um bom futuro mas estava cansada, talvez alguma outra vertente de ocupação poderia lhe dar mais tranquilidade em poder tomar conta de seus assuntos pessoais. Quando enfim terminou o trabalho, vestiu uma roupa esportiva e foi caminhar no parque.
Diante da entrada do parque se lembrou do simpático sorveteiro. Por sorte tinha dinheiro ali na hora e foi acertar sua conta atrasada. Lembrou o seu nome de imediato, mesmo porque havia tido uma primeira vez em que perguntara o nome de um sorveteiro, algo inédito em sua vida!
Stephanie pediu desculpas pelo atraso e ambos flertaram, rindo de pequenas coisas que tornava aquele momento simples e agradável de ser vivido.
A partir dali começava a se encontrar com César com uma certa frequência e ela gostava muito das conversas entre eles. Contou como seu trabalho era cansativo, como estava com saudades da família distante e iria visitá-los logo, inclusive contou sobre sua mãe estar feliz com a vinda do pupilo Thiago, o que gerou um certo ciúme em César, ciúme este que foi totalmente perceptível por ela.
Ele a escutava, costumava citava belos textos na hora certa, e ela amava o jeito que ele a olhava, simples e doce como ele era. Estava se apaixonando por César, embora soubesse que ele era um simples sorveteiro e mesmo com um papo agradável não tinha exatamente as características de um homem pelo qual imaginava um dia encontrar para ter um relacionamento duradouro. Ele era a simplicidade de que ela gostava, mas ela era sempre movida aos objetivos, o que desfocava o simples e impedia o possível momento em que eles pudessem ficar juntos.
Em um final de semana Stephanie pegou um avião e foi visitar os pais. Chegando lá percebeu como o trabalho de seu pai havia rendido bons frutos, sua família havia reformado a casa (uma surpresa de seus pais que não haviam contado a Stephanie), compraram um novo carro e sua irmã estava estudando em uma universidade de nome forte.
Mas havia um porém. Seu pai estava com a saúde debilitada, sua diabetes havia piorado e seu semblante era de um velho abatido e cansado. O trabalho o desgastara, no entanto tinha conseguido manter a família toda em boa situação financeira, o que era orgulho para sua mãe, que por sua vez parecia não ver o estado de declinação física do pai.
Stephanie se preocupou e alertou sua mãe para que cuidasse do pai e sua mãe afirmava que ele mesmo não se cuidava, e seu pai afirmava que estava tudo bem e incentivava Stephanie a morar com eles e assim o assunto não avançou para bons frutos.
No mesmo final de semana o pupilo Thiago apareceu na casa dos pais de Stephanie, eles conversaram muito em família e Stephanie soube que Thiago seria nomeado o sucessor do diretor da filial da empresa onde trabalhava ele e seu pai e isso encheu a todos de orgulho. E todos diziam como seria legal Thiago ter um status elevado, comprar uma bela casa na beira do lago, trocar de carro e ajudar o pai de Stephanie facilitando os trabalhos e gerando ainda mais conforto para toda a família.
Stephanie sorria mas se questionava por dentro. Notava as intenções de Thiago de querer ficar com ela, sua família tantando convencê-la de ir morar com eles persudadindo- a a tentar uma carreria no estrangeiro. Todos tinham planos para ela mas ela não tinha este mesmo plano desenhado em sua mente.
Veio pensando em sua família durante toda a viagem de volta. No domingo quando chegou em casa, ligou para os pais para avisar que havia chegado bem e sua mãe havia dito que o pai estava internado, algo que aconteceu subitamente quando ela tinha embarcado no avião, que provavelmente ele sofrera um AVC e que ela deveria voltar urgentemente. Stephanie se desesperou, procurou vôos no mesmo dia mas somente tinham vôos disponíveis para terça-feira pela manhã.
Stephanie pensou muito sobre tudo isso, em meio à choros de preocupação com seu pai. De que valeu a mudança de sua família para o estrangeiro? Ela deveria estar mais junto com eles e deveria ter esquecido por um momento de seus sonhos? Passado mais tempo com eles? Teria ela vivido as regalias deles enquanto seu pai e o mundo passava diante de seus olhos?
Ela sentiu que deveria abandonar suas convicções, deveria imediatamente passar um tempo com sua família, que deveria adiar um pouco seus sonhos e quem sabe, se não era isso mesmo, se realmente não daria certo juntar-se ao pupilo Thiago, casar-se com ele e morar em uma casa de campo com os filhos brincando no lago, perto de sua família...
Foi quando se lembrou de César. Aquele olhar simples, aquele rosto meigo de belo sorriso que sempre a fazia se sentir feliz, alguém simples e apaixonante e que por um momento ela havia se esquecido. Ela subitamente entendeu deveria esquecê-lo! Diante das circunstâncias César deveria apenas representar um momento agradável e que já estava no passado.
E Stephanie foi ao parque na tarde de segunda-feira, despedir-se de César com um beijo, suficientemente sem coragem de enfrentá-lo e de ter que explicar suas atitudes, uma atitude em que ela gostaria de garantir o monopólio da opinião dela mesma.
Juntos - O Final
César foi ao apartamento de Stephanie na mesma noite de segunda-feira. Ele se lembrava do caminho em um dos encontros com ela, mas era suficientemente educado para não se auto-convidar a ir até lá sem o conhecimento dela. Mas desta vez era diferente, ele precisava a todo custo falar com Stephanie e entender o que aconteceu.
O porteiro interfonou para Stephanie e ela respondeu que não gostaria de vê-lo. Para Stephanie era melhor assim. Mas logo se sentiu mal por ter uma atitude covarde dessas e por alguém que se apaixonara e o jogou fora em um momento pesssoal. Ela não atendeu o interfone, ao invés disso desceu para falar com César.
Ele estava discutindo com o porteiro e o mesmo ameaçava chamar a polícia caso continuasse insistindo para falar com Stephanie. Quando ele a viu correu até ela e a abraçou. Para Stephanie era o abraço que precisava para reconfortar o seu ser, ela chorou em seu ombro durante um bom período de tempo. Quando se afastou César começou a falar.
- O que aconteceu? Me diga, por favor...
E Stephanie disse, ali mesmo, com o porteiro testemunhando toda a conversa, ele mesmo não tendo coragem de mandar os dois se retirarem, e ambos não se importavam com a presença dele, era como um confessionário, um desabafo. E César ouviu tudo pacientemente. Quando Stephanie terminou, César a beijou e em seguida lhe disse:
- Vá, e faça o que tem que ser feito. Esperarei por você. Jamais amei alguém como eu te amo Stephanie! E citou por fim Fernando Pessoa:
"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
Stephanie sorriu, o mesmo largo e doce sorriso quando conversavam juntos. Se despediram ali mesmo, César desejando todas as melhoras à seu pai e indo embora em seguida.
Stephanie olhou para o porteiro, que disse:
- Nem chamou o rapaz para subir?
- Ele não aceitaria Senhor Pedro. Não sei como sei disso mas eu sei. Ele é diferente.
Algum tempo se passou.
Stephanie retornou após a melhora de seu pai, e após decisões e conversas consigo mesma, com a família e com César.
E César a esperou. Todos os dias em que ficaram separados eles se falaram por telefone, aumentando ainda mais a saudade e o vínculo entre eles.
Quando voltaram a se ver foi como uma explosão de sentimentos, indiscritível, insana e descontrolada!
Entre detalhes e pequenas porções de histórias, a vida que se seguiu daí por diante só pode ser compreendida por quem viveu um amor com intensidade de sentidos, com o sabor da exclusividade de sua metade, com um perfume único que pode ser recordado todos os dias mesmo na ausência fisica de seu amor, lembrado em todos os momentos vagos ou não, como uma incrível e inevitável força, impossível de se parar, como as ondas do mar que batem nas rochas, que acontece simplesmente todos os dias!
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